Há poucos meses fui surpreendida por uma manchete no mínimo curiosa: “Surfe e Cocaína”. Resultado de entrevista com o jornalista Chas Smith, autor de “Cocaine + Surfing: A Sordid History of Surfing’s Greatest Love Affair”, (Cocaína + Surfe: Uma sórdida história sobre o maior caso de amor do surfe).
Por Janaína
Mais algumas semanas outra revista resolve abordar a relação entre o esporte e a substância.
Confesso que não li a matéria, muito menos o livro escrito por Smith, que além de músico é professor universitário. Por outro lado, conheço o poder de devastação da droga consumida em larga escala no Brasil e no mundo.
Perdi minha mãe de forma trágica depois de lutar no mínimo dez anos contra o vício que roubara sua vida. Na ocasião ela estava em uma clínica de reabilitação, sofreu uma parada cardíaca e foi embora, dessa vez para sempre.
Durante anos vivi a história dos milhares de familiares que sofrem com a angústia que é conviver com a morte lenta e a degradação física, mental e emocional de um dependente químico.
Tentativas de tratamento, internações, sumiços, espera e o convívio constante com uma espécie de estado de alerta: quando será a próxima recaída?
Mas, afinal, o que o surfe tem a ver com cocaína?
Nada. E é simplesmente bizarro e oportunista, na minha opinião, tentar relacionar as duas coisas. Uma é morte, a outra é vida. Concordo com o jornalista Daniel Duane, da Go Outside America, quando ele afirma que o livro de Chas é cômico, apesar da crítica positiva que faz à obra. Afinal, a maior história de amor do surfe é a cocaína? Isso só pode ser piada.
A modalidade que durante anos foi marginalizada não precisa disso, mesmo porque a relação entre cocaína e surfe é nenhuma. Substâncias químicas são consumidas, antes de mais nada por pessoas que por sua vez praticam algum esporte, seja futebol, MMA, polo, basquete ou surfe.
Histórias trágicas sobre alcoolismo e dependência químicas não estão só nas favelas, mas nas famílias ricas, Senado, escolas, casas noturnas, empresas, obras e multinacionais, e obviamente entre praticantes de esporte.
Álcool e substâncias químicas são responsáveis por grandes tragédias familiares, crimes, acidentes fatais. O surfe não.
A intenção não é rechaçar publicações que deram luz ao livro que tem a desfaçatez de afirmar que a maior história de amor do surfe é com a cocaína. Apenas dizer que a real história de amor do surfe é com a vida.
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