Medo, dor, desconforto, cansaço, machucado, caldo, falta de ar, afogamento, quilhada, rabeada, prancha quebrada. Seria fácil deixar de surfar se não fosse tão bom, é verdade
Dor: sensação desagradável ou penosa, de intensidade variável, causada por um estado anômalo do organismo ou parte dele e mediada pela estimulação de fibras nervosas que levam os impulsos dolorosos para o cérebro; sofrimento físico.
Não me lembro quando foi a primeira vez na vida que soube o que era dor. Já surfando sim, dois episódios marcantes de dor fazem parte da minha trajetória de surfista até o momento.
Uma pranchada e um nariz espatifado
O dia estava nublado, a água nem quente nem fria, mas o vento soprava forte e foi ele “quem” arremessou com força a prancha contra meu rosto, quebrando meu nariz. Nada de manobra arriscada, tubo profundo, caldo da história. O episódio que entortou meu nariz foi estupidamente sem graça.
Na hora não sangrou, o sangue ao invés de jorrar pelas narinas ficou acumulado criando uma espécie de bolsa de sangue gigante, que cobriu minha cara praticamente inteira. Olhos, bochecha, nariz, era tudo a mesma coisa.
Tem certeza que isso foi uma quilhada?
Na segunda, de novo, minha própria prancha. Dessa vez uma das quilhas me atingiu em cheio a coxa, cravando na minha carne um corte profundo. Como aquilo doeu.
Não esqueço da pergunta vinda do rapaz que me recebeu no hospital: tem certeza que isso foi uma quilha? Parece mais uma mordida de tubarão, disse ele. Bacana, pensei, que ótimo comentário. A sutura não foi feita corretamente, e já em São Paulo tive uma triste notícia: o corte teria que cicatrizar aberto, não havia mais tempo para novos pontos.
Durante longos quatro meses passei fazendo de três a seis curativos por dia. Um suplício que só me doía por uma questão: quando aquele buraco estaria fechado para que eu pudesse surfar de novo?
Nos dois episódios as dores foram agudas, porém, passageiras. Na época eu não fazia ideia do que era dor muscular. Aos vinte e poucos sobrava energia e força, tampouco cansaço fazia parte do meu vocabulário.
Time is ticking
Depois de muito desejar morar na praia, aos 33 realizei o sonho. Finalmente era possível surfar quando tinha onda e não apenas aos finais de semana, com lotação e hora marcada.
Apesar de me sentir bem e ter disposição de sobra, lamentavelmente essa energia parecia não ser sentida pela “parte física” do meu ser. Ciático, tensões do dia a dia, estresse e até uma tal de faciste plantar me deram boas-vindas depois dos trinta.
Então, descobri que jamais me livraria do fortalecimento muscular e do velho e bom alongamento se quisesse ter uma vida sem dores e surfando.
Obrigada: existe funcional
Depois de pular de galho em galho, de academia em academia desde os 14 anos, período em que pratiquei boxe, natação, muay thai, capoeira, aulas de estepe e localizadas, encontrei o funcional. Talvez ele tenha me encontrado, não sei. Não cabe agora discutir as Leis do Universo, destino, acaso? Estava escrito nas estrelas? Sei lá! Avulsa de respostas e independente de crenças seria presenteada com a oportunidade de conhecer um treino especial.
Foi nos fundos de uma residência, na Vila Madalena, que conheci o treinamento funcional. Não havia nada de equipado naquele lugar. A casa, que nitidamente precisava de reformas também era por demais acolhedora. O avesso de uma moderna-academia-flag-ship-paulistana, no espaço havia um tatame, kerobels, elásticos e outras coisas que nunca vira antes.
Quem me apresentou João, dono do espaço, foi o amor, quer dizer, o Filipe. Ficou na memória treinos marcados por um método quase espartano de ser, no bom sentido. A rigidez do surfista e treinador marcou uma noite em que, com a cara de poucos amigos, ele me perguntou: é assim que você rema quando está surfando? Não, né? Então faça direito.
Apesar da dureza muitas vezes no trato durante os treinos, o professor sabia transmitir com maestria a essência da prática esportiva e os treinos nunca eram iguais e sempre muito bons. Sem contar que foi nesta velha casa, com esse treinador “linha dura” que ouvi pela primeira vez o termo: liberação miofascial.
A esperança de ver resultados foi interrompida com a notícia de que a casa seria vendida e o professor faria as malas em definitivo para viver finalmente na praia. Assim nos tornamos órfãos de treino, pela primeira vez, juntos.
Nem tudo está perdido
Antes que pudéssemos perder as esperanças fomos agraciados com a notícia de que ex-alunos e um ex-professor do antigo treino estavam planejando um novo espaço.
Era lindo. Na Vila também. Tudo novinho, com muita atenção dos donos e professores. Era o lugar perfeito para me empenhar novamente na missão de frear ou no mínimo retardar os processos de flacidez e enfraquecimento muscular, cruelmente inevitáveis.
Aí veio Ubatuba e bye bye Vila Madá. De novo, me vi órfã de um treino de suporte ao surfe.
Um milagre chamado Liberação Miofascial
Sempre gostei de massagem, quando criança costumava massagear minha avó, mãe, tias e quem quer que aceitasse ser minha cobaia. Na maioria das vezes era retribuída com elogios, o que me levou a crer durante um período na infância que iria me tornar massagista, além de professora, presidente do Brasil e promotora pública. Tinha sonhos ambiciosos, acabei jornalista, não de Guerra como eu queria, mas de surfe.
O gosto pela sensação de alívio que a massagem dá (às vezes dor, muita dor, é verdade) é que me fizeram ficar fascinada pela tal liberação miofascial. Você conhece? Se não, precisa me deixar agora e assistir ao vídeo.
Antes e depois do surfe
A técnica de automassagem usando equipamentos como bastões, bolas e rolos pode ser feita antes e depois do surfe. O hábito evita lesões e causa bem-estar imediato.
No início pode parecer dolorido e é preciso dizer que se você não tem um profissional te acompanhando é necessário começar com cuidado e atenção. Apesar de intuitiva, a técnica exige mínima concentração, como tudo na vida. O mágico da liberação miofascial é que muitas vezes o alívio da dor é instantâneo.
Para quem busca entender melhor a técnica há cursos de certificação para professores e educadores físicos interessados em saber mais sobre os benefícios da LMF (liberação miofascial).
A verdade é que vale outro post para nos aprofundarmos mesmo nesse universo ímpar da LMF. O que eu posso afirmar com a mais absoluta certeza é que 15 minutos de bolinha podem ser salvadores.
por Janaína
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