Entrevista
Editor-executivo, no Brasil, de uma das publicações impressas de surfe mais renomadas, a The Surfer´s Journal, o fotógrafo Jair Bortoleto lança “A Primeira Palavra”. A publicação, com fotos autorais dos principais nomes do surfe mundial, teve pré-lançamento na cidade de Nova Iorque, local onde Bortoleto espera realizar seu novo projeto.
Na entrevista a seguir, ele conta como se tornou editor-executivo da “The Surfer´s Journal” no Brasil, a dificuldade de retomar a carreira após a descontinuação da publicação, sua visão sobre o mercado editorial do surfe nos dias atuais e as razões que o levaram a produzir “A Primeira Palavra”, que de acordo com ele, houve o desejo de que suas imagens pudessem transgredir a escrita.
por Janaína
Como você enxerga o mercado editorial de publicações especializadas?
O mercado das revistas está acabando, infelizmente. Só há, hoje no Brasil, a “Hardcore” como revista impressa. Logicamente é muito triste! Porque todo fotógrafo sonha ver suas fotos impressas, mas é preciso se adaptar. Surgiram outros meios de publicação, como as redes sociais, que se você souber controlar seu material, consegue, às vezes, fazer dinheiro com isso.
Porém, revistas como a “The Surfer’s Journal” são essenciais para o surfe, pois mantém a história no papel. Foto na internet dura um dia, pois a quantidade de material publicado é absurda. Ninguém lê mais nada! Ontem vi que a “National Geographic” vai parar de publicar no Brasil. Quer coisa mais triste?
Quando e como começou a trabalhar “com surfe”?
Em 2005, comecei a documentar ícones do surfe santista, cidade onde morava e berço do surfe no Brasil. Mas, isso só foi possível graças à ajuda do meu amigo Herbert Passos Neto que, praticamente, bancou minha ideia, pagando por filmes e revelações, pois o projeto foi todo fotografado com filme. Tinha acabado de casar e estava quebrado! Então, percorria Santos inteira, de bicicleta, fotografando. Desde o primeiro surfista no Brasil, o Sr. Thomas Rittscher, até lendários como Twins, Picuruta, Orácio Moraes, além dos garotos da nova geração como Andrew Serrano e Cássio Sanches.
Depois de cerca de um ano, mostrei as fotos ao Romeu Andreatta, que me acolheu, expondo uma série de dez imagens minhas no III Festivalma. Isso foi extremamente importante e eu valorizo muito até hoje, pois ninguém nunca tinha ouvido falar de mim, era um desconhecido. Então, essa confiança foi imprescindível para o meu começo.
Já em 2007, esse projeto culminou no lançamento do livro “Alma Santista” (Cosmmos Editora). O lançamento ocorreu na Pinacoteca Benedito Calixto (Santos); um marco na historia do surfe brasileiro, pois o surfe nunca havia entrado lá.
Durante esse tempo, continuei trabalhando em uma fornecedora de navios e levava a fotografia como um complemento. Então, em meados de 2010, recebi um email do Adrian Kojin. Em reunião, me disse que estava trazendo a publicação “The Surfer´s Journal” para o Brasil e gostaria que eu fosse o editor-executivo. Então, ele me ensinaria o processo de edição e após um ano de negociações comecei a trabalhar na Editora Gaia.
Quais foram os melhores e os “piores” momentos da sua jornada à frente do The Surfers Journal?
Bom, o melhor momento foi ter minha foto na capa da primeira edição. Eu tinha ido pro Havaí, durante a temporada de 2011/12, e, além de fotografar uma equipe, produzi bastante material para projeto pessoal. Uma dessas fotos foi durante uma manhã em Sunset Beach, quando o brasileiro, radicado no Havaí, João Mauricio Jabour pegou uns três tubaços no inside e, em uma das fotos, o momento foi bem bonito, intenso e marcante.
O pior momento foi quando acabou. Eu fiquei revoltado na real, fiquei muito triste. Logicamente eu criei apego pela revista e isso foi bem difícil de absorver. O surfe brasileiro precisava de um título como aquele pra manter viva a chama do “surfe de verdade”.
Conta sobre o lançamento de “A Primeira Palavra” e o momento atual da sua carreira?
No início de 2018, entrei em contato com Piergiorgio Castellani (proprietário da vinícola Ziobaffa), para mostrar meu trabalho, pois tinha a intenção de morar na Itália. Ele gostou tanto que acabamos fechando uma parceria para a publicação de um livro com a retrospectiva do meu trabalho como fotógrafo.
Neste projeto, tive o prazer de ter o prefácio escrito pelo Steve Pezman, dono da “The Surfer’s Journal”, na Califórnia, e o pôster do tour de lançamento na Itália ser feito pelo designer David Carson. O tour de lançamento foi bem legal! O surfe na Itália lembra os anos 80 do Brasil. Há certa inocência que cativa. O livro foi impresso em uma gráfica renomada na Toscana chamada Bandecchi & Vivaldi, com todo o cuidado, que nunca imaginava haver. Ficou incrível e tenho muito orgulho.
O nome, “A Primeira Palavra”, surgiu, pois sempre quis que minhas fotos falassem por mim; as fotos devem ser minha primeira palavra. Hoje ainda trabalho na divulgação do livro e lançamento em outras praças. Como aconteceu na cidade de Nova Iorque, recentemente, na livraria HeadHi, no Brooklyn.
Quais são seus planos agora?
Tenho um projeto grande. Quero fotografar em Nova Iorque, em parceria com dois fotógrafos santistas que moram lá: Daniel Vergara e Fernando Freire. Mas, também tenho em mente alguns trabalhos documentais, não relacionados com surfe.
E, aí? Curtiu? Eu tô louca por um exemplar de “A Primeira Palavra”, vou logo encomendar o meu com mister Jair Bortoleto!
Bjs e bom final de semana 😉
Parabéns Janaína.
Adoro acompanhar o origemsurf.
Entrevista excelente.
Continuamos aqui de olho nos textos e nas entrevistas.
<3 muito obrigada pelo carinho!!
Ainda hoje folheio minhas revistas dos anos 90, Hardcore, Fluir e Inside. Cada matéria que nos levavam onde não podíamos, somente viajando nas fotos e no texto. Obrigado pela matéria.
Oi, Amorim, que legal, fico contente que tenha gostado. Seu comentário me fez lembrar de um momento bem marcante nessa minha trajetória de surfista, o dia que parei em uma banca da av.paulista, levando pra casa meu primeiro VHS de surfe. A fita vinha “acoplada” à velha Inside. Confesso que nunca mais comprei outra Inside na minha vida, mas vi e revi aquele VHS incansavelmente. O filme era composto por várias sequências de imagens de Kelly Slater surfando Jfrey´s bay. Por algum tempo fui capaz de repetir as falas do americano, em um língua que nem falava na época, tamanho fanatismo com que eu encarava aqueles movimentos e a habilidade daquele ser… o surfe é tão lindo mesmo, que fica a certeza de que publicações impressas de surfe deveriam ser proibidas de deixarem de existir…obrigada por movimentar meu quadro mental de boas lembranças 🙂 1bj e boas ondas! jana
….e assim vamos perdendo a essência da verdadeira escrita sobre o surf mundial. Fui assinante duma e leitor de todas. A interpretação é processada somente com a leitura ” analógica “. Parabens aos bravos resistentes ….
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