O que dizer da performance do potiguar de Baía Formosa, Italo Ferreira? O que dizer da iniciativa da Liga Mundial (WSL) em parceria com o patrocinador oficial da etapa, a Corona, sobre dar luz à verdadeira infestação de plástico e outros resíduos sólidos nos oceanos e praias da Indonésia?
Por Janaína Pedroso
Foi um espetáculo de surfe e cidadania. O Corona Bali Pro ganhou um “sobrenome” de peso: Protected, no bom Português, protegido. A etapa teve como missão inaugurar um ciclo de iniciativas para recuperar os paraísos do Índico. O estrago humano sobre o ambiente não fica só nas areias, a contaminação vai além do solo, está na água e nos alimentos consumidos em Bali e arredores da ilha. O que torna a Indonésia um dos locais mais poluídos do mundo e também o que abriga as melhores ondas do planeta.
Mas já que o assunto principal por aqui é surfe, vamos a ele. Os brasileiros de uma forma geral deram um espetáculo. E cada vez que um deles era eliminado ficava no ar uma certa frustração. Foi assim com Gabriel Medina, Filipe Toledo, Adriano de Souza, Willian Cardoso e Jesse Mendes. O grande número de brasileiros concorrendo na elite do surfe mundial faz com que muitas disputas sejam travadas somente entre brasileiros, como foi o caso da bateria que contou com Italo, Filipe e Adriano. Um heat desses bicho? É show na certa.
Com uma boa dose de sincericídio, devemos assumir que o Corona Bali Protected começou bem morno. Foi ofuscado logo de cara por um swell em Cloudbreak, que certamente entrará para a história do esporte por duas razões. Primeiro porque vimos um Kelly Slater cheio de energia, saúde e muita atitude. Já que as ondas ultrapassaram os 20 pés tranquilamente e o americano botou pra dentro de tubos astronômicos sem grandes dificuldades, aparentemente.
E para quem não está muito por dentro do métier surfístico, o próprio Kelly optou por não comparecer ao evento de Keramas alegando motivos de saúde, já que a fratura sofrida no pé ano passado, segundo ele, ainda não está curada. Nas redes sociais da WSL e do próprio Slater houve uma chuva de comentários negativos. O segundo motivo que deixou o evento pouco atrativo no início foram as condições do mar. Já que no primeiro e segundo round as ondas não estavam “encaixando” na bancada como deveriam.
Acontece que Netuno, Iemanjá e as centenas de Deuses hinduístas deram as mãos. E o que vimos a partir do terceiro round foi um espetáculo. Atleta e oceano se conectavam de forma incrível, em um verdadeiro show de surfe para deleite dos espectadores em Keramas e aos milhares de internautas que assistiam ao evento ao vivo.
A grande final merece nossa atenção e um parágrafo todo. Italo Ferreira, o talentoso menino da simplória e linda região de Baía Formosa parece ter tomado gosto pelo pódio. Depois de balançar o cobiçado sino na etapa de Bell’s Beach, que marcou sua primeira vitória no tour, Italo volta a reinar absoluto nas magníficas direitas de Keramas. Depois de uma nota 10 na semifinal contra o sisudo Jordy Smith, o brasileiro chegou à final confiante e implacável.
Seu adversário foi Michel Bourez, de Rurutu na Polinésia Francesa, conhecido por apresentar um surfe extremamente plástico, que mistura agressividade com perfeição na execução das clássicas manobras. O mestre Bourez acabou perplexo diante da destruidora performance de Italo, que colocou o adversário em combinação, antecipando o final da disputa. Faltando 2 minutos para o término, Bourez jogou a toalha e parabenizou o brasileiro pela vitória quando ambos ainda estavam na água. Dois minutos em uma bateria de surfe pode ser uma eternidade, porém precisar de quase 20 pontos para virar o jogo é um feito praticamente impossível.
Mulheres na água
Entre as mulheres, nossa ex solitária combatente do CT, Silvana Lima acabou barrada pela australiana Tyler Wright em um resultado questionável. A própria atleta lamentou a decisão dos juízes em um dos seus stories do Instagram. Tatiana Weston-Webb, que hoje engrossa o coro do Brasil na disputa feminina da elite mundial, desbancou a seis vezes campeã mundial Stephanie Gilmore. Porém, ela não teve a mesma sorte contra Tyler, que já pode ser considerada a carrasca das brasileiras nesta etapa.
A final ficou entre Estados Unidos e Austrália e quem se deu melhor foi Lakey Peterson que saiu das poluídas e perfeitas ondas de Keramas carregada como uma verdadeira deusa indonesiana. Apesar da final meio morna, a etapa feminina contou com grandes momentos como o profundo tubo da simpática e sorridente Sally Fitzgibbons e o incrível somatório de 17,73 pontos de Silvana Lima na primeira fase do evento.
Vamos fazer nossa parte?
E se a partir de agora, cada um de nós resolvesse recolher não só o próprio lixo, mas também alguns objetos deixados por outros na praia? Está na hora de fazermos um pouco além para pagar a conta da poluição causada pelo homem nas praias e oceanos.
0 comentários
Trackbacks/Pingbacks