SEMANA MUNDIAL DO MEIO AMBIENTE

Comprar. Ter. Consumir. Adquirir. Possuir. Deter. Portar. Desfrutar. Usufruir. São todos verbos associados a hábitos de consumo. Somos humanos e vorazes consumidores. Aliás, o “Largados e Pelados” é só uma série de TV a cabo, a realidade é que somos tão dependentes do consumo quanto um recém-nascido é de sua provedora. Fomos criados assim.

Por Janaína Pedroso

Até ontem achávamos que haveria um jeito para o problema. Afinal, o incrível homem e sua inteligência desenvolveria uma fórmula magnífica capaz de acabar com a poluição num passe de mágicas. Hum, deu ruim…e a realidade é bem cruel.

Nossos oceanos estão basicamente inundados em lixo (com o perdão do trocadilho). Mas, oceanos contaminados vão além da triste cena de assistir à icebergs de sujeira boiando à deriva, e o consumo de pet, treta park e marmitas descartáveis está longe de ser o único problema.

Símbolo máximo do consumismo, a terra do Tio San é capaz de transformar todos os seus desejos em realidade a menos que você acabe obeso e viciado em junk food. Assim, os Estados Unidos abrigam uma das mais maiores “Zonas Mortas” do planeta. As chamadas dead zones, são áreas em que não há mais vestígio de oxigênio nos mares, traduzindo em miúdos, lugares mortos. Habitats que normalmente seriam repletos de vida se tornam basicamente desertos biológicos.

Além das dead zones, hoje o planeta também divide espaço com cinco ilhas de lixo. Chamadas de Vortex, são enormes quantidades de lixo levados pelas correntes oceânicas. Dessa forma, formam-se cinco gigantescos redemoinhos, onde o lixo é  acumulado. Estudos recentes indicam que pelo menos 5 trilhões de peças plásticas, que juntas pesam mais de 250.000 toneladas flutuam nos oceanos. A maioria dos detritos de plástico afunda ou permanece nos Vortexes. No entanto, uma porcentagem significativa é levada à costa pela maré todos os dias.

Agronegócio, uma parceria pra lá de controversa

A parceria entre duas gigantes contribui para o cenário atual de degradação ambiental. De acordo com relatório do Greenpeace “Eating up the Amazon” (Devorando a Amazônia) a agricultura e pecuária são uma espécie de parceiros no crime. Afinal, cerca de 80% da produção mundial da soja é consumida pela pecuária. E um dos maiores patrimônios da humanidade está sendo depredado para acomodar vastos campos de soja e pasto.

Segundo especialistas, abrir mão de um bife é bem mais eficiente que deixar o carro na garagem quando o interesse é reduzir a poluição produzida pelo carbono. Desta forma, estudos revelam que a carne vermelha supera as do frango, porco e peixe quando o assunto é o impacto ambiental. Já que sua produção requer 28 vezes mais terra e 11 vezes a água do que as outras culturas.

E já que entramos neste assunto, aí vai uma boa dica para entender melhor quão nocivo pode ser o consumo inconsciente da carne vermelha.

https://www.youtube.com/watch?v=R6GrNENv2e0

A indústria pesqueira não fica atrás. E neste ponto, a Europa engrossa o coro como um dos continentes que mais lucram com a indústria da pesca no mundo. De acordo com a FAO (Food and Agricultures Organization of the United Nations), o valor do comércio global de pescado alcançou a estratosférica marca de US$ 150 bilhões em 2017.

A chave para reverter o quadro de degradação parece estar na lógica do consumo. Assim, somos motivados pela realidade, dados, pesquisas e estudos, que comprovem que já ultrapassamos o limite do “aceitável”. Certamente, precisamos mudar nossos hábitos. Precisamos consumir menos, comer menos carne, conhecer a origem dos nossos alimentos e produtos. Afinal, outras questões estão envolvidas quando se trata de produção em larga escala como crueldade, maus tratos, trabalho escravo e infantil.

Quando o inventor estadunidense John Wesley Hyatt criou o primeiro plástico industrial, após simplificar o processo de produção do celuloide em meados de 1872, ele não imaginaria que o concurso promovido por uma empresa de sinuca em Nova Iorque a fim de criar alternativas para substituir o uso do marfim, teria sido o início de uma contaminação generalizada de oceanos e alimentos.

Quão cruel é pensar que o marfim na época era usado para fabricar bolas de bilhar? Para quem tiver estômago uma boa dica é o documentário “O Extermínio do Marfim”.

Plantações infestadas de veneno, animais entupidos de hormônios. O cenário é um tanto desanimador, sejamos honestos.

Mas espere, não se deprima ainda. Pois há luz no fim do túnel! Os bons também estão se unindo para trazer soluções não tão magníficas como passes de mágica, nem tão rápidas quanto promete o capitalismo, mas plausíveis, significantes e edificantes até. Conheça algumas:

Parley Ocean Plastic

Em parceria com a WSL, (Word Surf League), esta iniciativa promete mudar a visão, postura e compromissos do homem diante da contaminação dos oceanos pelo plásticos. Chamando todos para ação, a iniciativa ocorre por meio de três passos: evitar o plástico o máximo possível, interceptar o lixo plástico nos mares e repensar o material por si só. (reciclagem, reuso). Para impactar, a Parley Ocean Plastic apresenta o incrível trabalho de Chris Jordan, que lançou recentemente uma obra prima documental, o Albatross filme que integra o Midway Project.

Waves for Water

Criado por um surfista, o projeto tem como missão levar água filtrada a comunidades pobres ao redor do planeta. Ações em países como Indonésia, Costa Rica e Brasil são promovidas com intuito de levar mais saúde e dignidade às comunidades marginalizadas pela sociedade. Está aí um bom projeto para se envolver.

Rede Agroecológica

Consumir produtos sem agrotóxicos e vindos direto de um produtor local. Com essa missão nasceu a Rede Agroecológica Caiçara que tem como principal objetivo fomentar a produção de alimentos cultivados na costa litorânea. Criada em 2013, a rede conta atualmente com vinte produtores e diversos  produtos, comercializados por meio do portal de economia solidária Cirandas, e através de um encontro semanal que ocorre próximo ao tradicional mercado de peixe da cidade de Ubatuba, às quartas-feiras das 09h às 13h. Para mais informações clique aqui!

Surfistas como atores de transformação

Nós surfistas temos uma espécie de dever em proteger os mares, as praias, e o meio ambiente num aspecto geral. Inegavelmente, estamos ligados a ele. Assim, somos dependentes dele. Apesar da avalanche de ondas artificiais, onde é prometida a felicidade instantânea em troca de uma porção de verdinhas (e olha que aqui, devo dar o braço a torcer, a felicidade deve ser mesmo garantida) é no grande oceano que encontramos a felicidade plena.

Ativista e surfista Alison Teal rema em meio ao lixo nas Maldivas, em Thilafushi, ilha artificial nas Maldivas, onde cerca de 400 toneladas de lixo são despejados todos os dias. Divulgação.

Apesar de imagens via satélite ainda não estarem disponíveis no Google Earth, já conseguimos imaginar o estrago. Presas no Pacífico, as cinco imensas ilhas de lixo flutuam a esmo a espera de um milagre. Enquanto ele não vem, milhares de containers cheios de mercadorias viajam todos os dias, todas as horas. No trajeto muitos caem nos mares na ânsia de chegar ao destino o mais carregados possível. Afinal, são muitos os navios de carga que não respeitam o limite máximo permitido. Não há números oficiais, mas registros apontam que centenas de milhares de acidentes envolvendo containers nos oceanos ocorrem anualmente. Mais um filho rebelde do consumo inconsciente.

A conta chegou. Embora, populações carentes como as de Indonésia e Índia pareçam levar a culpa num paradoxo complexo de decifrar é inegável admitir que os principais culpados desta história sejam os grandes polos consumidores. Portanto, não caia nesta armadilha.

Talvez não caiba mais apontar culpados, ou insistir em ações paliativas e decadentes, como a velha educação ambiental. O jargão “Não jogue lixo na praia” parece cansado.  Hoje devemos questionar hábitos de consumo tanto de produtos quanto de serviços. E quando consumidos, que nossos rastros e restos sejam devidamente destinados, dando ao plástico e aos demais detritos uma nova utilização por meio da reciclagem. A tarefa está longe de ser fácil.