Italo é campeão mundial de surfe do ano de 2019, pela WSL. Ontem, 19, ao final da primeira bateria do Pipe Masters, em memória a Andy Irons, já era possível ter duas certezas. Primeiro: o título seria brasileiro. Segundo: o dia seria de poucas ondas espetaculares, com tubos muito menores do que os anunciados pela previsão de ondas do evento.

por Janaína Pedroso

Apesar da ausência de tubos profundos no início da competição, Ferreira dava sinais claros de que o título estava a caminho. Depois de um belo tubo, que lhe valeu quase sete pontos, Italo sacramentava vitória sobre Crisanto, seguindo a caminho do seu primeiro título mundial.

E assim foi Ferreira, da primeira à última bateria do evento, impecável. Italo, que no Grego pode ter sua origem ligada ao animal touro, foi bravo, forte, valente, honesto com seu único propósito naquele evento: sagrar-se campeão do mundo.

Com um jogo limpo, Italo Ferreira ganhou no surfe. Não precisou de artimanhas, ou se valeu de erros alheios. Italo fez o que sabe de melhor nessa vida e assim mostrou às gerações futuras, especialmente, que um campeão ganha assim, no surfe!

Campeão Mundial! Italo Ferreira do Brazil vence o Billabong Pipe Masters 2019 em Oahu, Estados Unidos Foto Ed Sloane/WSL via Getty Images.

ISA e WSL

Com apenas cinco anos de tour mundial, já que Italo iniciou no circuito em 2015, o surfista entra para a história ao ser o primeiro atleta da modalidade a vencer, no mesmo ano, os principais mundiais: ISA e WSL.

Ferreira não só venceu o ISA, mas deixou o mundo atônito ao surfar de bermuda jeans, atrasado e com a prancha emprestada.

Além do mais, foi o surfista do ano pela premiação de maior prestígio no cenário do surfe mundial.

A jornada do Herói (ou do anti-herói)

Ontem, falava sobre a imprevisibilidade da Natureza e sobre como uma etapa de surfe mundial pode ser frustrante, à medida que somos reféns das ondulações.

Com a reflexão, cheguei à conclusão de que não havia maneira então, de se determinar narrativa. Me enganei. Há sempre uma história, o fato é que nós humanos as desconhecemos; mas quem sabe, o destino do menino pobre de Baía Formosa já estava marcado?

Assim, já saberiam os astros, deuses e deusas que aquele título seria glória? O momento da redenção de uma infância marcada pela falta de oportunidade e injustiça social, desigualdade.

Italo é campeão mil vezes. Não é apenas (por mais errado que isso possa soar) campeão da ISA, da WSL, do Brasil. Italo Ferreira é o campeão de Baia Formosa, do nordeste, dos nordestinos, dos pescadores, dos paraísos, e por que não campeão da luta contra o óleo também.

Ferreira foi ilustre ao se posicionar contra o descalabro que acometeu sua região. Foi um atleta e um ser digno de ser chamado de ídolo, ao defender a saúde dos mares. Uma prática que deveria ser tão natural aos surfistas, especialmente aos que fazem verdadeiras fortunas no esporte.

Inicialmente tachado pela mídia brasileira especializada como “menino maluquinho”, jeito descontraído de dizer que o surfista não seria equilibrado emocionalmente, Italo rompeu barreiras e mostrou ao mundo que é possível ser autêntico e livre para ser um campeão!

Parabéns, Italo!