Kitesurfista Bruna Kajiya é protagonista de novo episódio da série “Until 18 – O Momento da Decisão”, da Red Bull. 

Criada em Ilhabela, litoral norte paulista, a atleta conta em entrevista ao blogue OrigemSurf, como foi ir contra os desejos do pai, os esforços para estimular mulheres na modalidade, lesões, novos talentos e mais.

por Janaina Pedroso

Assista ao episódio com Bruna

Entrevista

Pergunta – No episódio você fala sobre o objetivo de ser campeã mundial, hoje já conquistado três vezes inclusive. Agora, qual é seu maior sonho como atleta profissional?

Resposta – Ser campeã mundial pra mim é sempre um objetivo, acho que além de eu ser uma pessoa que adora competir e sempre estar tentando fazer o meu melhor, acho que isso me motiva muito e também é uma plataforma grande para que eu possa compartilhar  outras ideias e fazer coisas que eu sonho na minha carreira, como aumentar a visibilidade e o espaço das mulheres no esporte, fazer crescer o kitesurf feminino e coisas relacionadas às mulheres dentro do meu esporte.

Bruna em ação. Foto Red Bull Content Pool

P – O dia a dia próximo ao mar possibilitou tornar-se atleta de kitesurf, como imagina que seria sua vida hoje se não tivesse tido esse contato?

R – O dia a dia perto do mar fez 100% parte da minha escolha como kitesurfista  e eu só virei kitesurfista porque eu precisava estar dentro do mar, por ter crescido nele. Quando mais nova, me machuquei surfando. Então, fiquei um tempo sem surfar e fiquei maluca! Porque precisava estar no mar, encontrar alguma coisa pra fazer no mar. Aí o kitesurf apareceu, e no final foi perfeito porque é onde eu sinto em casa. Sempre me senti bem mais em casa dentro da água do que fora dela, então foi o casamento perfeito.

P – Você deu novo sentido, de alguma forma, ao trabalho para sua família. Acha que viveríamos em uma sociedade mais harmoniosa se mais pessoas fizessem do que amam?

R – Com certeza, acho que se as pessoas fizessem mais o que amam, a gente viveria em um mundo muito melhor. Acho que quando você faz o que ama, você não só toca as pessoas que o seu trabalho toca, mas também as pessoas ao seu redor, sua família, seus amigos, porque você é uma pessoa mais realizada e mais feliz. E quando a gente faz algo que gosta, a gente faz com amor, com vontade, e isso traz um resultado bem melhor. Acredito que se todo mundo fizesse isso, estaríamos vivendo num mundo incrível.

Bastidores da gravação. Foto Red Bull poll content.

P – Em algum momento você reflete sobre o futuro: ‘e se não der certo’. Como na sua opinião, é possível manter-se no momento presente, com a mente focada no agora?

R – Acho que motivo para não dar certo a gente vai encontrar em tudo, até a coisa mais perfeita, no final, tem motivos para não dar certo, como também tem motivos para dar certo, sabe? E eu acho que não vale a pena gastar energia no que pode dar errado se tem tanta coisa pra dar certo. E eu acredito na minha energia, na minha vontade, nos meus motivos, então sei que se eu colocar tudo isso no mundo vai dar certo, de um jeito ou de outro.

P – Você foi a primeira mulher no kitesurf profissional, que realizou a manobra Backside 315. Em alguns casos, como no surfe, por exemplo, ainda são poucas as surfistas profissionais que costumam fazer manobras radicais. Por que você acredita que as mulheres dos esportes radicais ainda são mais conservadoras nesse sentido? 

R – Eu acho que é uma questão de acreditar, porque antes de eu tentar essa manobra, nenhuma mulher acreditava que era possível, então elas nem tentavam. E do mesmo modo tem muitas manobras que, às vezes, eu nem penso em tentar porque eu não tinha pensado que era possível. Esse é um trabalho que eu faço comigo mesma, paro e penso ‘Não, Bru, tudo é possível, vamos trabalhar, elaborar um plano…’, não é na loucura também, sair tentando fazer manobra e se machucar, mas acho que com um trabalho e um plano certo é possível, então acho que é um mindset mais do que tudo.

Bruna Kajiya em Isla Blanca, Mexico. Foto Mauricio Ramos/Red Bull Content Pool.

P – As lesões são parte da carreira de um atleta, como você se prepara fisicamente para minimizar os riscos nesse sentido?

R – Lesões são parte da realidade, eu tenho três cirurgias no joelho, tenho um dedo quebrado, já machuquei várias coisas, mas faz parte, é isso: tomba, levanta e vamos embora! Faço meu melhor para me manter saudável e evitar ao máximo as lesões. Todas as lesões eu acredito que estava em ótima forma física, mas acontece, e essas são inevitáveis, acho que assim é mais fácil do atleta lidar, ao invés de falar ‘ah, foi vacilo meu, eu não tinha treinado’. Eu sou super regrada nos treinos fora d’água, faço um preparo físico, muito alongamento, me alimento bem e me cuido bastante para poder fazer essas loucuras de kitesurf na água.

Bruna Kajiya nos Lençóis Maranhenses, Parque Nacional em Barreirinhas. Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool.

P – Em quais lugares do Brasil você mais gosta de praticar?

R – Ah, eu amo o Brasil, é o melhor lugar do mundo pra mim, pra fazer kite. Cumbuco, Taíba, toda a costa do Ceará é incrível, de Fortaleza para cima também, lugares como Rio Grande do Norte também tem lugares ótimos. Pra mim, o melhor lugar do mundo para fazer kitesurf é o Nordeste brasileiro. 

Bruna nos Lençóis Maranhenses . Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool.

P – É possível viver de kitesurfe no Brasil? Digo, existem eventos nacionais ou é preciso ir para fora do país como você fez?

R – Olha, quando eu comecei, era bem difícil viver de kitesurf no Brasil, isso foi mudando mas, ultimamente, as competições deram uma boa diminuída. Mas, também, ano passado teve Covid. Porém, antes disso o tour brasileiro e nacional estava bem caído. Então, se quer fazer uma carreira boa como atleta profissional – porque você pode viver de kitesurf dando aula, dando cursos avançados e especializados, etc, mas como atleta profissional você precisa ir pra fora e pro mundial.

Bruna Kajiya mergulha em Ilhabela. Marcelo Maragni/Red Bull Content Pool.

P – Em quais personalidades femininas você se inspira?

R – Cara, eu sou muito fã da surfista Carissa Moore, algumas vezes campeã mundial, ela é da Red Bull também, e eu adoro o equilíbrio que ela mostra. Tudo bem que nas redes sociais você não sabe direito como é, mas ela parece ser uma pessoa extremamente bondosa, preocupada com o outro, e é difícil equilibrar competição com isso, às vezes você precisa ser bem egoísta, no sentido de se cuidar, se priorizar, pra competir, o mindset de competidor, e eu gosto muito do jeito dela, doce, amigável, feliz. Mas, quando entra na água é uma máquina e passa por cima de todo mundo. Porque, pra mim, não adianta ser o melhor do mundo no kitesurf, ou no surf, ou seja lá o que for, mas não ser uma pessoa legal, uma pessoa boa, que tenta fazer o melhor para os outros, e eu valorizo muito isso. Então me inspiro em atletas que conseguem esse equilíbrio profissional e pessoal.

P – Em quais atletas da nova geração devemos ficar de olho?

R – Olha, tem um menininho da Lagoa do Cauipe, o nome dele é Davi Ribeiro, tem 12 ou 13 anos se não me engano, novinho. Já participou do mundial, já foi super bem. Ele faz mais manobras do que a gente que está no mundial já, é de cair o queixo. Tudo bem que as manobras ainda precisam de polimento, potência, altura e tal, mas esse menino promete. Ele é bonzinho, super legal, ajuda na comunidade a fazer limpeza da praia, ajuda os outros meninos a aprenderem manobras, doa equipamentos usados pra eles. 

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