Lembro-me como se fosse ontem do primeiro verão em Itamambuca. O ano era 1997 e eu não passava de uma fedelha aspirante à surfista que não deixava minha tia e seu namorado em paz. 

Praia de Itamambuca, Ubatuba. Foto Janaína Pedroso.

Personificava a famosa “vela”, pessoa conhecida por atrapalhar romances alheios. Isso porque aos finais de semana, quando os pombinhos se mandavam para Ubatuba, ele em busca de onda e ela de dias de praia, estava eu no meio.

Mas, brincadeiras à parte, foi graças ao casal que conheci Itamambuca, aquele paraíso que fez, definitivamente, com que me tornasse uma surfista. 

Contudo, antes de viciar neste esporte, Itamambuca reforçou algo que para mim é o mais mágico desta história toda de surfar. Sentir a energia da natureza, surfar e olhar ao redor e observar floresta e mar. Diferente do Guarujá e picos como Pitangueiras, que apesar de ondas incríveis, oferece um visual deprimente, Itamambuca era perfeita!

Então foi paixão à primeira vista. Ah, como foi. 

Entretanto, ontem chorei caminhando pelas areias de Itamambuca. Uma tristeza tomou-me por completo, apesar de horas antes ter feito a cabeça com uma sessão de surfe daquelas para surfista nenhum botar defeito. 

Longe da prancha e com os pés na areia, vi uma Itamambuca destruída, suja, cansada, mal-tratada. Bituca, pinos de cocaína, plástico, redes, sacos de lixo, garrafas pet. Encontrei de tudo por lá. 

Entretanto, não era só a sujeira que chamava a atenção. Árvores inteiras e milhares de pedaços de troncos faziam com o que cenário lembrasse um filme de fim de mundo. Ao olhar para a encosta, também era possível observar a imensa cratera aberta há semanas na estrada, causando deslizamento de terra que por muito pouco não atingiu casas no loteamento.

Caminhei e chorei, perguntando-me qual será a Itamambuca que meu filho vai conhecer? 

Como haverá de ser o futuro diante das perspectivas nada empolgantes que se referem às consequências das mudanças climáticas? 

Vocês não estão percebendo? Eu nunca vi Itamambuca assim! “Águas de março, Janaína”, “isso sempre existiu” “não viaja”, “lá vem a mensageira do apocalipse com suas teorias de fim de mundo”.

Fim.