Tem vaca no surf e ninguém tomou um caldo. Mas alguns surfistas estão fazendo uma vaca, a famosa vaquinha. Arthur Cerqueira e Maju Freitas foram convocados para uma etapa do VISSLA ISA World Junior Surfing Championship, que rola em Portugal, entre os dias 17 e 25 de setembro, mas nenhum dos dois têm condições de bancar a viagem. Coincidência? De jeito nenhum.
Os tempos são paradoxais. Nunca tivemos um campeão mundial, hoje temos dois e jamais tivemos tantos brasileiros correndo o circuito mundial. Em contrapartida, nunca estivemos tão carentes de competições. Cadê o Brasileiro? Cadê o SuperSurf? Ninguém sabe, ninguém viu. Feminino então, nem se fala, o buraco é bem mais embaixo. Preconceito, machismo e falta de circuito andam lado a lado das surfistas profissionais do país.
A ISA, responsável por incluir o surf nas Olimpíadas, também cedia o mundial por equipes, que em 2015, ano passado, o Brasil ficou em 21o lugar, na frente apenas de países sem nenhuma tradição no esporte como Venezuela, Alemanha, Ilhas Virgens e Israel. Tá achando ruim? Dá sempre pra piorar. Dito e feito, esse ano não houve nem sinal do Brasil no ranking. Não teve Brasil, simples assim. E onde está a Confederação Brasileira de Surf, responsável e parceira da ISA? Sumiu!
Conheci Arthur em maio desse ano, enquanto cobria a etapa do QS na Praia do Forte para o site da revista Trip. Já Maju foi em Maresias, durante a etapa do campeonato Medina ASM, evento organizado pela família de Gabriel. Maju é do Rio e Arthur de Mata do São João, município de Salvador que abriga uma das regiões mais belas do país. Os dois são grandes talentos, jovens cheios de energia, de garra, de vontade. E eles dependem hoje de você, de mim, do vizinho, do fulano, do ciclano, da boa vontade de quem ama o surf, e sonha com futuros campeões olímpicos. E principalmente, futuros campeões brasileiros.
Esses atletas só sobrevivem diante de tantas adversidades graças ao apoio de quem ainda acredita no esporte. Felipe Freitas, ex-surfista profissional é quem dá uma força para Arthur. “Quando conheci o Arthur vi nele muito mais do que um surfista com grande potencial. Ele é sem dúvidas um grande talento, mas junto disso vem um moleque educado, disciplinado, responsável e muito focado. Ele é o melhor aluno da sala, um filho que só dá orgulho, e certamente tem tudo pra se tornar um atleta exemplar, com admiradores por todos os cantos onde passar e um espelho para as próximas gerações”, conta Felipe.
Com Maju não é diferente, tem muita gente disposta a ajudar. Seu pai e grande incentivador é Marcelo Freitas, Tricampeão Mundial de Longboard, um grande feito, mas não o suficiente para ser valorizado por aqui.
Em um país sério, a Confederação de Surf pagaria os gastos dos atletas. Mas o Brasil não é um país sério. Não é mesmo.
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