Yago Dora em Newcastle e Jesse Mendes em Manly. Por favor, quem apostaria isso se manifeste? Eu jamais daria esse chute!
Surpresas a parte, foi muito bom ver a comemoração dos atletas e torcida no lugar que para muitos representa um segundo lar. Já que diversos surfistas se mudam para a Austrália em busca de uma carreira promissora. Além dos brasileiros, de forma geral, que se aventuram do outro lado do mundo seja para estudar, trabalhar, surfar, viver.
Durante quatro anos, adotei o país dos cangurus de inglês caipira como minha casa. E vou confessar: como é difícil acompanhar essa dobradinha de longe. A vontade era de estar lá, cobrindo o evento, entre a areia, o palanque e a sala de imprensa (geralmente o lugar menos atraente). A última vez em que estive no Australian Open senti uma das melhores sensações da minha vida. Lembro logo pela manhã, dar de cara com Bethany Hamilton na minha coffee shop favorita e em seguida, entrevistar Mark Occhilupo, Sally, Jacque, Miguel, Parko, como foi bom!
Naquele fim de tarde, ainda cruzei com Jesse em frente à praia. Ele me olhou fixo nos olhos e falou no meio da roda: “Desculpa”. Eu, sem saber lidar direito com aquilo, disse “Imagina, desculpa eu”. E a conversa durou três segundos e para minha sorte ninguém perguntou o que havia acontecido. O dia caiu e aquela viria a se tornar uma das noites mais memoráveis de toda a minha estada no país. Entre amigos e desconhecidos estava Pedro Barros, o melhor skatista de todos os tempos. Conversamos, demos risadas e comemoramos a incrível performance do skatista prodígio até o sol apontar no horizonte.
Jesse não precisava me pedir desculpas. Naquela manhã, senti que acabei ultrapassando o limite entre a profissão e o “coração”. Jesse estava arrasado – queria aquilo mais do que tudo e não conseguiu alcançar – e eu, com toda a minha falta de sensibilidade, enfiei um gravador na sua cara e perguntei alguma merda do tipo: “Como você se sente com a derrota?” Porra, claro que ele me odiou naquele segundo. Eu também me odiei logo que ele desapareceu da minha frente sem dar uma palavra.
Mas esse ano, o que eu queria mesmo era ter estado lá, não só para reviver momentos que foram muito importantes na minha vida, mas também como uma forma de me redimir e exorcizar um fantasma do passado de uma entrevista desastrosa. Finalmente, iria perguntar qual era a sensação de vencer em Manly, um lugar tão simbólico para os surfistas australianos e para os brasileiros que fazem daquele lugar o seu lar.
– Desculpa eu, Jesse.
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