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A experiência do encontro em um surf camp só para mulheres

por | ago 23, 2018 | Notícias | 2 Comentários

“Desde que chegamos aqui, somos pontos de encontro entre atletas profissionais e amadores. A ideia é fomentar o esporte aonde a gente estiver. Já fizemos dois surf camps com Fabio Gouveia e dois com Marcelo Trekinho. Vimos esse gap, o de ter algo exclusivo para mulheres, a Marina abraçou, foi demais,” me conta Marcelo Aguiar, um dos sócios da casa.

Por Alexandra Iarussi

Na foto, a repórter que vos escreve, em momento íntimo com o Oceano durante o surf camp. | Foto: Anna Verônica / @annaveronicafr

Voltando ao surf camp: o que foi que eu aprendi em minha experiência de quatro dias de muito surf, treinamento funcional e loga com um grupo de mulheres?

Ainda sem saber como conduzir o aprendizado em forma de texto, conto sobre a experiência para um amigo. Ele sugere sincronicidade como ponto de partida.

Sinto afinidade instantânea entre palavra e experiência. Sincronicidade é um conceito empírico que surge para tentar dar conta daquilo que foge à explicação causal. Ao longo de sua obra, o psicanalista Jung deu várias definições ao conceito de sincronicidade, como “coincidência, no tempo, de dois ou vários eventos, sem relação causal mas com o mesmo conteúdo significativo.”

Me atenho a tudo o que sincrônico possa trazer, traduzir, comunicar e conectar.  Sinto por bem voltar algumas linhas desse texto e reformular a pergunta: com quem aprendi em minha experiência de surf camp?

Em matéria de ondas, fomos especialmente abençoadas. No melhor dia de ondas da praia de Geribá, longas direitas quebraram um pouco além da altura da cabeça – swell chegou trazendo felicidade líquida. Era, se não me engano, sexta-feira, 27 de julho. Nesse mesmo dia acompanhamos um fenômeno cósmico milenar: o eclipse total lunar mais longo do século XXI; um alinhamento entre Sol, Terra e Lua, com duração de três horas e 55 minutos, que não se repetirá até o ano de 2100 pelo menos.

Lua em eclipse – durante o surf camp, um acontecimento cósmico histórico. | Foto: Anna Verônica / @annaveronicafr

Fomos até a montanha mais alta de Búzios contemplar o eclipse total lunar mais longo do século XXI. Rolou yoga conduzida pela professora Aruana. E uma conexão mágica: miro a lua fixamente por talvez uma hora quanto sinto alguém tocar meu ombro. Me viro curiosa, vejo Nicole, e na sequência flui longo abraço. “Nikki” foi o apelido que encontrei para essa mulher doce e forte. Nikki cresceu em Búzios, mora no Uruguai, estuda meio ambiente, tem aptidão para surfar ondas grandes. “Eu quero ser big rider,” ela me conta. Seu espírito vai além do que sou capaz de descrever. É natural imagina-la à vontade quando as condições do mar estão para muitos fora de controle. Meu encontro com Nikki me faz pressentir que vamos ter juntas muitas aventuras de mar.

No meio do caminho, outra parceira de surf camp. Bel é carismática, inspira afinidade. Me acolheu em sua casa, conversamos muito. Bel largou a frenética rotina a frente de uma produtora na capital carioca para viver um cotidiano mais tranquilo em Búzios, aonde aprende o surf. Em uma de nossas trocas, ela me conta como foi desviar-se da carreira de tenista profissional na adolescência por conta de uma condição rara de saúde que a levou para idas e vindas em internações hospitalares. Ela me contou mais muitas histórias incríveis – a maioria delas me remete à importância de estar vivo sentindo o aqui e o agora.

Aí teve a Ju. Carioca, pratica corrida há mais de dez anos, entre maratonas, meia-maratonas e distâncias mais longas. Ela estava no camp para aprender o surf. “Na corrida, o psicológico é o que mais importa. Claro que o treino é importante. Mas você está correndo, faz aquele frio de lascar, chega sangrar boca. Você tem mais quarenta quilômetros pela frente e a escolha de seguir, bem, é muito jogo mental,” ela me conta enquanto narra experiências mundo afora. Ouço e fico estupefata com o poder daquela mulher, pensando comigo mesma sobre trabalhar mais e melhor a força da mente.

Maria é mais uma companheira de surf camp. Ela está aprendendo os fundamentos básicos do surf. Cai da prancha, sai correndo para tampar o nariz para não entrar água. É autêntica. Desinibida. Não acredito que ela tenha pretensão, mas, sem querer, ganha seu coração. Em momento íntimo, ela me conta como foi a história de se reaproximar da mãe, que assim como ela, saiu de São Paulo e foi encontrar ritmo próprio na ilha de Florianópolis, longe da cidade, perto do mar. Ver Maria sendo ela mesma é um lembrete oficial de que a vida encontra fluxo natural quando vivemos perto da nossa verdade.

Mulherada celebra mais um camp. Em um encontro feliz, da esquerda para a direita; Alexandra, Bel, Nicole, Marina, Maria, Aryane, Ju e Aruana. Foto: Anna Verônica | @annaveronicafr

Eis que topo com Anna Verônica. Anna é fotógrafa, tem olhar afiado para o sensível. Foi ela quem filmou e fotografou nossas sessões durante os quatro dias de camp. Anna trocou o corporativismo de empresa grande para ver o mundo com as lentes da fotografia. Me chamou atenção seu talento para transformar cada momento de mar em quadro bonito, seja quando ela estava com tripé fincado na areia ou imersa (sem roupa de borracha) nas águas geladas da praia de Geribá.

No vídeo acima, você confere o vídeo do surf camp pelo olhar de Marina Werneck (mais aqui).   

Todas as noites a Marina repassava em vídeo as performances de cada uma, entregando dicas especiais para cada uma sobre como melhorar a performance.  Perco ligeiramente foco para breve reflexão: assistir-se surfando é uma experiência de humildade. Porque é aquela hora em que dois mundos se encontram,  real e fantástico. Como acho que surfo e como realmente surfo. Para mim a experiência inicial passa por um quê de frustração: sou levada pela sensação de euforia que o surf me proporciona, a ponto de achar que fui mais radical ou manobrei mais criticamente, quando, na verdade, segui em uma linha reta e constante na parede na onda, por exemplo. Porém a experiência segue fluída, me faz fincar pés no chão, entender aonde você está e visualizar aonde quer chegar.

Marina Werneck, nossa grande incentivadora, alma doce e muita habilidade sobre a prancha. Foto: Anna Verônica / @annaveronicafr

Em um desses momentos de vídeo análise e reflexão, uma frase da Marina me fisga. Ao pacientemente analisar cada onda surfada, ela diz: “Gente, tem uma regra, que é a regra número 1, a mais importante de todas: nunca dê as costas para o Oceano.” Naquele momento, me agarro ao anzol, mergulho de cabeça, vou além: “Abra o peito para o Oceano. Aceite fluir sem controle. Meio líquido pede transcender constante. Sincronismo entre corpo, espírito e mente, com onda, parece ser a autêntica busca do surfista.”

Juro que estar nesse surf camp mudou o estado de liquidez da minha alma. Em parte, pelas experiências ali compartilhadas entre ondas, sol e um eclipse milenar. Em parte, pelos encontros, naquele espaço x tempo, com mulheres tão incríveis que me conduziram cada vez mais fundo para dentro de mim mesma – em um movimento natural e cíclico, meio como ondas de mar.

Gratidão a todas, e que venha o próximo.

Vídeo e fotos: Anna Verônica / @annaveronicafr

A convite da The Search House Búzios fui participar de um surf camp com a freesurfer Marina Werneck. O hostel, funciona como autêntica meca dos boardsports – kitesurf, stand up padre, canoa polinésia – e tem localização “pé na areia”, de frente para a praia de Manguinhos, em Búzios, RJ.

Sobre o autor

Origem Surf

Janaína Pedroso surfa há 21 anos. É formada em Comunicação Social/Jornalismo, com especialização em Roteiro para TV, Teatro e Cinema. Já atuou como apresentadora com passagens pela Globo, Band e CNT e como repórter para Editora Trip. Atualmente divide seu tempo entre a maternidade, o surfe, a produção de textos e à frente da empresa de comunicação Origem Press.

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2 Comentários

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