São muitos os adjetivos cabíveis por aqui; sobram formas para nomear o que acaba de ocorrer em Señoritas, Punta Hermosa, ou Ponta Bonita, como queira; com nome e sobrenome – Claro Open Pro Copa Tubos QS 3000 –, o evento entra para a história do surfe mundial de competição.
Não só por celebrar a estreia de evento de porte três mil pontos da divisão de acesso à elite do surfe mundial (QS), no famoso point break (fundo de pedra) peruano, mas porque foi um tremendo sucesso.
Além de orgulhar peruanos, a etapa deve ser vista como exemplo, em diversos aspectos, para os brasileiros. Resumindo, temos muito o que aprender com nossos vizinhos.
De palanque sustentável a uma verdadeira lição de vida
Nada de poluição visual com dezenas de banners em PVC, aparentes e destoantes. Dessa vez optou-se por investir a verba destinada à impressão de materiais promocionais de forma menos agressiva.
Ao invés de cartazes, logotipos e lonas plásticas, samambaias e tapumes de visual mais clean e rústico cobriam os esqueletos metálicos do palanque.
InkaTeam – os guerreiros peruanos chegaram de vez
Uma grata surpresa. Assim foi tomar conhecimento do grupo de surfistas peruanos que, para a minha admiração, surgiu na década de 80, com os surfistas ‘Magoo’ de la Rosa, ‘Titi’ de Col e Makki Block.
Mais tarde, o time ganharia força e inspiração graças à conquista de Sofía Mulanovich, em 2004. A peruana sustenta até hoje o feito de ser a única mulher latino-americana capaz de vencer o circuito mundial de surfe (CT).
Formado em sua maioria por homens, o InkaTeam tem além de Sofía a participação das surfistas Daniela Rosas, Melanie Giunta, Sol e Leilani Aguirre e Analí Gómez.
Na ala masculina Miguel e Tomás Tudela, Cristóbal de Col, Adrián García, Alonso e Sebastián Correa, Álvaro Malpartida, Lucca Mesinas, Juninho Urcia, Joaquín del Castillo, Jhonny Guerrero e Gabriel Villarán.
Ano que vem tem mais?
Sim, quem garante é Franz Tomasevich, que esteve à frente da organização.
“Tivemos muitas oportunidades de conversar com os representantes da WSL aqui nestes cinco dias e o feedback (retorno) que recebemos foi bastante positivo. A infraestrutura do evento foi elogiada, poderia tranquilamente ser de um CT ou um QS 10000 ou QS 6000, superando altamente as expectativas (…)”.
Tomasevich agradeceu patrocinadores, mas cobrou maior apoio da iniciativa privada.
“Tudo funcionou superbem e só o que falta para termos um QS 10000 ano que vem aqui é o apoio da iniciativa privada, que precisa entender a importância do surfe no Peru.”
Nem tudo são flores
Infelizmente nada é perfeito e o ganhador não foi peruano, tampouco brasileiro. Me perdoem os surfistas franceses, que honram certa tradição do esporte no país, mas como latino-americana e emotiva por nascença, achei uma pena/decepção, que o troféu não tenha ficado ao menos no continente.
Ver o título na mão de um francês foi para mim tão decepcionante quanto mascar um chiclete velho ou saborear um belo hot dog sem salsinha…
Sem desmerecer a competência do jovem francês, que apesar de europeu parece padecer do mesmo mal que seus colegas de profissão do terceiro mundo (ainda se usa a expressão “terceiro mundo”?). O bico da prancha de Gatien Delahaye estampava nada mais que um incomodo e reluzente espaço em branco.
Inclusive, o campeão disse emocionado estar sem palavras para descrever o que representava aquela vitória. Porém, resumiu o fato a muito trabalho e dedicação nos últimos dois anos. E finalmente agradeceu aos pais pela conquista.
Para finalizar, a etapa mundial no Peru deixa mensagens significativas aos fãs, atletas e mercado brasileiro. Entre elas, talvez a mais importante: o surfe brasileiro merece renovação nos cargos de comando das Federações e afins. Por outro lado, falta união e fiscalização dos próprios atletas, que ao final são os maiores prejudicados pela inoperância e descaso do sistema.
E brincadeiras a parte, parabéns ao vencedor e vencedores pelo grande evento. O surfe agradece!
por Janaína
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