Por onde andei? Esse texto podia ser sobre os seis dias que já não surfo, dos dias em que estive na Capital, ou ainda sobre a poesia musicada de Nando Reis, quem sabe da lembrança doce de minha mãe, Rita de Cássia, que aliás amava Titãs e achava graça de lembrar do dia que acabou no camarim dando uns beijos no Fromer. Eu nem sei bem sobre o que é esse texto

por Janaína

Aliás, foi uma tristeza quando soube do atropelamento, do ônibus, da bicicleta, do nome na passarela. Ter nome em passarela não é bom sinal.

Os dois já morreram. Ele faz tempo, ela nem tanto. Seis anos e dois meses dos dias mais tristes da minha vida.

Mas esse texto não é sobre morte. Não de novo. Será que estou amaldiçoada pelo efeito causado por um fenômeno que eu acabo de inventar, conhecido como “temacentrísmo”?

Às vezes acontece comigo. Acontece também escrever texto que dá azar. Aquele que fica lá no destaque duas semanas. Já azedou há um tempão, mas continua lá, te lembrando que você foi incapaz de publicar qualquer coisa, não escreveu sequer uma linha. Não pode isso. Tem que escrever todo dia. Cony; Rui Castro; Simão; tem que escrever todo dia.

Mas é que teve o Fanta. E um dia depois teve o pai do Fanta. É muita morte pra uma família. Consegue imaginar?

Dizem que tristeza mata. E nesses casos, quase sempre, é o coração que pára de bater. Não acho que o Fanta morreu de ser triste. Não é possível que surfar daquele jeito não afaste tristeza.

Nas redes, teve gente falando de desatenção no caso do Fernando “(…)precisamos prestar atenção aos sinais(…)”. Tem muita morte hoje em dia. Que sinais? É de fumaça? Tem Floresta inteira morrendo de fumaça.

Aliás, consegue imaginar uma morte pior? Morrer queimado ou asfixiado! Deus do céu. Desde criança me perguntei: o que era pior; queimado ou afogado? Nunca tive resposta. Você tem? 

Ausência de amor

Desculpa Criolo, mas tem muito amor sim em SP. A começar pelas casas de vó. Imagine quantas casas de vó têm sp. Aliás, parece que tem mais gente ainda por lá. Tá vendo Criolo, sp é que nem casa de vó.

Mas a verdade mesmo é que ele tá certinho. Tem muita morte em sp e em qualquer outra cidade daquele tamanho, daquele jeito, com aquele barulho, com aquela fumaça, com as pontes de cor cinza, que é cor de concreto e uniforme de polícia que mata.

Então fui à São Paulo pra morrer um pouco. É porque cada dia de vida que passa é um tempo que já morreu.

Sob essa ótica, me dou conta de como o humano é contraditório. Afinal, diante do curto tempo que nos é ofertado (pode ser realmente curto) viver em plenitude seria lógica simples, matemática. Mas não é. Ao invés disso, gastamos tempo cultivando rancor, mentira, tristeza.

Falando em tristeza, me dei conta de que me isolei um bocado esses últimos anos e que fiquei mais amarga desde que alguns elegeram alguém tão ignóbil. Eu que era tão extrovertida, amigável, faladeira, de repente, calei, entrei pra dentro, juntei os cacos.

Mas não me culpo. Afinal, tem tanta morte lá fora que, hoje em dia, é melhor ficar em casa. Tem morte demais em cada esquina. E esse papo de que brasileiro é gente amistosa, já nem cola.

Acontece que esses dias a morte entrou na minha casa, e olha que nem Amazônia tem por aqui. Me senti na obrigação de sair e me juntar com gente que não concorda com o curso que o país está tomando.

Se este for o seu caso, faço o convite:  amanhã (24), às 10h30, no canto direito de Itamambuca, Ubatuba.

E o que vamos fazer? Meditar, cantar, fazer roda, olhar no olho, encontrar, agradecer e pedir perdão pelos que não sabem o que é ter e sentir amor de verdade no coração.

Cartaz.

Ignorância afetiva e a nova era da intolerância

Julga porque não aceita. Agride pois não concorda. Ataca porque não entende. Ofende pois sente raiva. Cuspe porque sente nojo. Mata pois não suporta. Destrói porque é ganância

E depois de morrer uns dias em sp, voltei de ônibus. Mas, no caminho li 135 páginas de Paulo Francis. A Vó ia doar a coleção de “Diário da Corte”, selecionada por Nelson de Sá. Então, peguei pra mim. Trouxe também a “Visão do paraíso” do Sergio Buarque de Holanda. Mas, me lembro que a vó falou qualquer coisa sobre o autor,  que não era bom. Já do Francis nem se fala, tinha gente que odiava ele. Morreu do coração e falava em corrupção da Petrobrás já naquele tempo. Deve ter sido de tristeza.

Gostei do livro, só parei de ler por causa da Serra. Na verdade, deu medo de morte. O ônibus na Serra do Mar tinha cara de tragédia publicado em jornal local. “Acidente de ônibus mata 37 pessoas”.

Está aí um veículo mal projetado para descer Serra de Mar. É muita altura longe do chão que carrega gente ansiosa com chegada e triste com partida.

Mas, até assim, viajar é bom. Pra surfar então, melhor ainda. Eu to com saudade de fazer uma surftrip. Talvez G-land de novo. Me dei conta esses dias que já não tiro férias tem um bom tempo.

Pode ser de carro, avião, ônibus. Viagem só não é boa quando o motorista faz curva forte na Serra do Mar ou quando a geringonça fica sem freio.

A verdade é que o ônibus cambaleava de um lado para outro e eu pensei que não seria nada bom morrer assim, de desastre de ônibus. Nem queimado.

Ô Folha, coloca aí Ubatuba na agenda, por favor?

bjs, boas ondas e até amanhã!