Projeto “Nas Ondas do Bem”, coordenado pelo engenheiro mecânico Ulisses Caetano, professor do Instituto Federal de Santa Catarina (IFSC), em parceria com a Associação Surf Sem Fronteiras e o shaper Fabrício Flores Nunes, apresentou na última sexta (08), prancha fabricada para atender surfistas com deficiência.
por Janaína
Até o momento, no Brasil, pranchas para portadores de deficiências eram adaptações, muitas vezes a partir de pranchas de SUP, vela e outras modalidades.
Foram cerca de oito meses, desde os primeiros encontros com a chef de cozinha Vitória Diehl, até o primeiro drop com a prancha desenhada sob medida.
De acordo com os envolvidos na empreitada o feito é inédito no país, e talvez no mundo.
“A informação que se tem é de uma primeira prancha criada a partir de entrevistas e estudos, sem adaptações, só inclusões. Entrevistamos a surfista PcD e procuramos atender todas as necessidades apontadas por ela”, explica Fabrício.
Segundo o shaper, a prancha foi desenvolvida com base em pesquisas feitas a partir de criações de grandes nomes do design de pranchas como George Greenough, irmãos Campbell, Planing Hulls, Bob Simmons e David McTavish. Além de estudos de ergonomia e antropometria.
“As quilhas foram inspiradas nas proporções áureas das barbatanas de lulas e do espiral Fibonacci”, completa.
O surf adaptado é um presente na minha vida e eu quero mostrar que é possível ter compaixão e alegria pelo outro.
Vitória Diehl
Ouça a surfista
Nas Ondas do Bem
Iniciado em 2017, o projeto “Nas Ondas do Bem” engloba ações de inovação, pesquisa e ensino para o fortalecimento da cultura e prática do surfe.
Coordenado pelo professor Ulisses Caetano, 41, a iniciativa passou a ter foco maior em designer de pranchas para PcDs em outubro deste ano.
“Desde 2017 tocamos o projeto que conta com um Board Truck (caminhão com sala de shaper) estacionado na sede do Instituto (IFSC) onde fabricamos pranchas”, conta Ulisses.
Professor de mecânica do ensino básico e técnico no campus de Itajaí, Caetano explica que o esporte ganhou dimensão inesperada, desde que começou a surfar, e como resultado surgiu a ideia de iniciar o projeto.
“Comecei surfar há três anos apenas, mas o surfe tomou uma proporção enorme. Por isso, resolvi trazer o tema e, desse modo discutir como o design inclusivo de prancha de surfe poderia contribuir para o bem-estar”, explica o mestre e doutor em Design pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
A partir da tese “Ondas do bem: Design de pranchas orientadas para aprimorar a performances do surf adaptado”, foi possível reunir parceiros e criar o protótipo.
O design tem um papel central de favorecer as interações entre os produtos e o ser humano, de uma maneira propositiva universal, sensível que contribua para experiências que conjuguem usabilidade e bem-estar.
Ulisses Caetano.
Inicialmente foram realizados encontros e visitas técnicas à Associação Surf Sem Fronteiras para compreender a realidade do surf adaptado.
“O surfe é uma ferramenta poderosa na construção da habilidade da felicidade no coração das pessoas. Uma felicidade que é pautada por acalmar a mente, reduzir o apego ao ego, interconectar de maneira impermanente os seres e as entidades por meio das ondas”, comemora Caetano.
Surfe e Budismo
Adeptos do Budismo, os surfistas Fabrício Flores Nunes e Ulisses Caetano pretendem desenvolver os próximos passos do projeto alinhados à filosofia de Dharma.
“As referências bibliográficas do Budismo vão guiar nosso caminho. Outras pranchas serão feitas, é só o começo. Estamos na fronteira do conhecimento, adentrando em um terreno ainda desconhecido”, conta Caetano.
Para o ano que vem, o professor e surfista adianta que há um projeto programado. “Vamos fabricar uma prancha para atender às exigências de um surfista tetraplégico”.
Patentes, Dossiês e a chande de produção em larga escala
A iniciativa conta com um dossiê sobre a empreitada realizada com Vitória. O processo de criação da prancha, desenvolvido exclusivamente baseada nas exigências e carências da surfista, foi documentado em um dossiê produzido em quatro línguas (português, inglês, espanhol e francês).
Além do documento plurilíngue o grupo deve registrar a patente das quilhas, projeto original do designer Fabrício Flores da Sea Cookies Handshapes e confecção em parceria com a Slaid Fins.
Gratidão pode poder participar disso tudo! Surfe salva, une e agora, mais do que nunca, inclui. Obrigado a todos que participaram deste movimento que já existe e agora ganha ainda mais força!
Parabéns aos envolvidos. Lindo trabalho!!
Lindo projeto. Torço muito para que consiga produção da prancha em larga escala e dissemine ainda mais o surf como ferramenta de inclusão e também, de tratamento de diversas patologias. Já testemunhei os benefícios do surf para deficientes e sugiro ao jornal uma matéria adicional sobre o mesmo tema, divulgando o também maravilhoso trabalho de conhecido surfista Cisco Araña, na cidade de Santos. Além da primeira escola pública de surf, Cisco está à frente do Projeto Sonhando Sobre as Ondas, com pranchas adaptadas desenvolvidas por ele mesmo para deficientes visuais e para outras deficiências. O projeto é lindo e conta com o apoio da Prefeitura de Santos, do Rotary Club e também da Blue Med, que tem um projeto voltado para a terceira idade. Recentemente foi inaugurada na cidade uma segunda escola de surf no Posto 3, inteiramente dedicada ao atendimento de centenas de deficientes. Quem foi o primeiro? Não importa. O bom é que existam o segundo, o terceiro e outros mais. Aloha!.
Aloha nobres.
Obrigado de coração pela matéria.
Ficou muito profissional.
Obrigado a todos envolvidos no projeto pela parceria e melhores energias.
Sigamos rumo a novos desafios de inovação técnica e social, pois essa é a missão do Instituto Federal de Santa Catarina.
Mahalo.
Prof. Dr. Ulisses Caetano
e-mail: ulisses.caetano@ifsc.edu.br
Muito legal a iniciativa, mas não foi a primeira prancha desenvolvida para pessoas com deficiência!
Que bacana