Daniel Setton, conhecido como “Dany Boi”, foi um dos responsáveis por montar estruturas de palanques de campeonatos de surfe, além da logística Setton participou do OP 85, já mencionado aqui, e nos anos seguintes de 1986 e 87. 

Já em 1994, mudou-se para Florianópolis, e em 2003, iniciou no ramo de eventos, abriu empresa em sociedade com Alexandre Fontes. Ambos passaram a realizar os eventos da antiga ASP, hoje World Surf League. Após a transição da Association of Surfing Professionals à WSL, passou a coordenar os eventos da Liga na América Latina.

Especializado em montagem e desmontagem das estruturas dos campeonatos pelo Brasil afora, acumula mais de 50 campeonatos internacionais. Na entrevista à plataforma Origem Surf, ele fala um pouco sobre o que um campeonato de surf compreende: comissão técnica, juízes, imprensa, área para surfistas, amigos, técnicos, convidados “very important people”, patrocinadores e marcas. Tudo ocorre dentro de 1500 m2 de área construída, módulos e andares.

Uma vez definido o pico, local onde será o campeonato, monta-se a estrutura e sempre há um plano B que é uma sede de backup em outro local com condições diversas de vento e ondulação para garantir as melhores condições de ondas na etapa.

Pergunta – Como foi a experiência de montar o primeiro OP em 85? Você trabalhava na OP na época?

Resposta – Sim, estava trabalhando com o Sidão, Sidney Tenucci Jr, na OP e a marca estava bombando. Sentíamos a necessidade de montar um circuito brasileiro de surfe. Decidimos fazer um grande evento em 85 e ver o que iria dar. Montamos a estrutura na Joaquina toda em madeira, que compreendia área de juízes. Ela ficou ali por três anos sendo aproveitada a cada evento que acontecia na praia e virou propriedade da Associação da Joaquina. A única mudança de um campeonato para o outro era a programação visual que era toda pintada, pois não existia adesivagem na época, tínhamos que pintar toda identidade visual, era uma outra forma de trabalhar.

P – A partir daí o que ocorreu?

R – Em meados dos anos 80 as marcas de surfe no Brasil, representadas por surfistas amigos, viram que era possível fazer uma ativação como aquela sem gastar muito. Então resolveram, durante a etapa do mundial do Hang Loose 86, realizado na Joaquina, estruturar o primeiro circuito brasileiro com Op, Lightning Bolt, Sundek, Fico e Town & Country se uniram e fizeram acontecer.

Então, organizei campeonatos de 85, 86 e 87. Aí saí da OP e fui trabalhar com publicidade. Foi quando realmente aprendi a produzir, me mudei para Florianópolis e fui convidado para trabalhar no WCT com o Flávio Padaratz, Alexandre Fontes e Avelino Bastos e não parei mais. Passei a organizar etapas do QS (Qualifying Series) e CT (Championship Tour) aqui no Brasil. Foram muitos campeonatos internacionais e nacionais, que deram chance aos surfistas brasileiros para competir com os gringos (estrangeiros) de igual para igual, elevando o nível do surfe no Brasil. Quando a WSL entrou no mercado passei a ser executivo da liga como coordenador de eventos da América Latina.

P – Como são montadas as estruturas hoje em dia? Quanto tempo antes vocês começam a montagem? Me fala um pouco sobre o que é essa estrutura.

R – É muito diferente de 85. Hoje em dia, as estruturas estão todas pré-moldadas e são feitas em alumínio. Com as Olimpíadas de 2014, empresas internacionais vieram ao Brasil e se estabeleceram aqui, melhorando a oferta do setor.

Normalmente para colocar em pé um evento do CT demora 30 dias a montagem. A estrutura tem que abrigar: atletas e seus técnicos, equipe técnica, convidados, imprensa, patrocinadores, e a transmissão do campeonato que reúne mais de 60 pessoas. Hoje em dia são 13 câmeras responsáveis pela transmissão dos campeonatos ao redor do mundo.

OP Pro 85 Foto: Madinho/Arquivo pessoal.

P – Como funciona a estrutura móvel? Você já teve que mudar toda a logística de um campeonato?

R – A estrutura não é móvel e por causa da imprevisibilidade das ondulações, sempre montamos duas estruturas, de acordo com diferentes condições de ondulação e vento. Uma sede e outra menor, mas com todo o cabeamento previsto para a transmissão e estrutura de juízes e atletas. Em 2019, em Saquarema, as condições do mar mudaram e tivemos que mudar a estrutura toda em três horas. Foi uma loucura. Tivemos que usar um caminhão com batedores, pois o campeonato estava lotado e o trânsito das ruas era impossível, mas deu tudo certo. O campeonato que tinha iniciado em Itaúna terminou na Barrinha.

P – Como você enxerga a Brazilian Storm? Você acha que ainda teremos novos atletas no circuito?

O que está acontecendo no cenário internacional em relação ao Brazilian Storm é realmente impressionante, o fato de termos já três atletas brasileiros campeões mundiais fez e faz toda diferença para a nova geração acreditar que é possível. Acredito que o surfe brasileiro tende a evoluir e, com certeza, teremos novos campeões mundiais no futuro.

Sidão, Sidney Tenucci Jr e Dany Boi, Daniel Setton. Foto: Madinho/Arquivo pessoal.
Arquivo pessoal Danny Boi.