Italo Ferreira finalmente está em casa. Após longa viagem de volta ao Brasil, uma medalha de ouro conquistada nos Jogos Olímpicos em Tóquio e três coletivas de imprensa, o surfista pode descansar. Quer dizer, surfar. 

Desculpa Italo, estou atrasada e não tem maternidade que dê conta para me apoiar dessa vez. Quem acompanhou a exaustiva via crucis de Italo Ferreira após o ouro olímpico, até finalmente a chegada em sua pequenina e paradisíaca Baía Formosa, com caloroso abraço materno (a única que se manteve acordada à espera do filho, posso imaginar o orgulho, alegria e ansiedade por este abraço), sabe a que me refiro.

Fato é que o incansável Italo precisou provar para a voraz mídia brasileira que além de medalhista dourado em Tóquio é preciso estar disposto a responder milhões de vezes as mesmas perguntas. Foram três coletivas de imprensa!

Italo na terceira coletiva de imprensa antes de chegar em Baía Formosa. Foto Marcelo Maragni.

Mas Italo tem nervos de aço, e mesmo os que têm a insensatez de perguntar a um campeão de ouro olímpico sobre o adversário derrotado, recebem a atenção do menino que já foi chamado de maluquinho. Nunca me referi ao ídolo assim, mas cansei de ouvir críticas, especialmente de ex-parceiros e managers, que Italo não tinha cabeça; vejam lá meus querides leitores, quem será que não tem cabeça? Contudo, faço mea culpa, julguei errada inúmeras vezes a ausência de um técnico ao lado de Ferreira. Bem, ao que parece ele não precisa mesmo de um.

Muito se falou sobre Italo Ferreira quando o surfista foi campeão do mundo. Mas agora, a verdade mesmo é que a tal bolha que muitos por ingenuidade ou ignorância, achavam que jamais seria furada, está em frangalhos, estraçalhada. 

O estardalhaço causado pelo filho do pescador nordestino escancarou as barreiras do improvável. Grita-se aos oceanos da terra: conquistas inesquecíveis são feitas de fé, foco, garra e vontade.

A desigualdade social produz violência, mas surpreendentemente também é capaz de fabricar talentos que não se conformam com a escassez a que são submetidos. São seres humanos brilhantes e irrefreáveis. 

E me desculpa se a pergunta te fiz já foi em algum momento respondida, mas aí vai ela:

Italo, você consegue descrever exatamente o que sentiu, viu, viveu, ao se dar conta de que era o primeiro medalhista de ouro do Brasil em Tóquio, e o primeiro medalhista olímpico da historia do surfe?

“Foi difícil digerir tudo isso. Na verdade, está sendo. Estou meio que em choque com tudo que está acontecendo, é fora do que eu tinha imaginado. Eu só queria a medalha, mas aí veio tudo, o pacote completo (risos). Mas é legal sentir o carinho das pessoas, o respeito e a admiração. Espero que a galera esteja orgulhosa de mim”.

Obrigada, Italo Ferreira!

Italo e o resultado de sua fé inabalável. Foto Marcelo Maragni