Após 15 anos, Barra de La Cruz voltou a receber uma etapa do Circuito Mundial de surfe, em suas direitas incríveis. Foi em 2006, tendo Andy Irons vencedor, que ocorreu a quinta etapa do CT (Championship Tour), em um lugar até então “secreto”, cheio de magia e ondas perfeitas. Diferente dos tempos atuais, naquela época não houve competição entre as mulheres, e a divulgação sobre a localização do local, referia-se a “algum lugar do México”. Mais tarde, soube-se que muitos atletas inclusive nem sequer sabiam onde competiriam.
por Antonia Wallig
Chegada de kombi
Em 2018, cheguei à Barra de La Cruz com o Rekombinando. O projeto, consistia em rodar partes do globo, com amigas e dentro de uma Kombi. A partida foi dada em Porto Alegre, e o destino final estava traçado, era a Califórnia.
Deslizando pelas estradas da Costa do Pacífico e surfando onde o swell nos levava. Mas, o propósito do Rekombinando é sobretudo realizar ações educativas relacionadas à preservação ambiental, artes e surfe com as comunidades litorâneas.
Lembro da sensação ao chegar em Barra de La Cruz, foi indescritível. Foi como se tivéssemos voltado no tempo, lá na década de 70, quando meu pai fez essa mesma viagem de kombi pelas Américas… mas isso é história para outro texto.
Saímos de Salina Cruz rumo a Puerto Escondido. Sabiamos que no caminho havia uma baía em que a ondulação poderia encaixar desde que estivesse com bom tamanho, antes de chegar gigante em Zicatela. Chegamos no pequeno vilarejo, com algumas casas, escola, igreja e poucos lugares para se hospedar, todos muito familiares.
Barra de La Cruz e a vida em comunidade
Passamos a nos sentir em casa. A luz acabava meia noite, hora de voltar para casa depois de algumas tortillas e cervezas no comedor de Las Gemelas. Quando precisávamos dar noticias à família no Brasil, comprávamos crédito no pequeno mercado e sentados na soleira da porta pegávamos o ínfimo wi-fi disponível. Além disso, o que fazíamos era pegar muito onda e comer manga e siriguela do pé, que álias, foram as mais deliciosas que já comi. Ou seja, pássavamos dia inteiro entre o mar e alguma sombra na areia, vendo as lindas direitas quebrarem bem na nossa frente.
O que também nos surpreendeu muito, foi a relação da comunidade com o local e a forma como se organizavam coletivamente. Para entrar na praia era preciso pagar uma taxa, que se revertia para cuidados ambientais, manutenção e limpeza dos banheiros oferecidos para os visitantes. Um pequeno restaurante também operado de forma comunitária, servia deliciosa comida típica aos famintos surfistas, que entre uma queda e outra no mar, descansavam em redes e se abasteciam de “tortillas, frijoles y huevos”. As “mamacitas” da comunidade, matriarcas, nos contaram que a cada ano era votado pela associação de moradores quem cuidaria do restaurante da praia, dessa forma decidiam tudo em conselho. Por fim, o valor arrecadado era dividido entre todas as famílias.
No mar, sempre havia turistas de várias partes do mundo, alguns viajantes de motorhome, muitas crianças, além dos surfistas locais, sempre acolhedores e com sorriso no rosto, mas sabendo muito bem impor seu lugar de respeito no pico.
Assistir à etapa da WSL em Barra de La Cruz trouxe-me verdadeira nostalgia, a lembrança viva do amor, que em tão pouco tempo criamos por este lugar e pelas pessoas que vivem lá. Parece-me que os atletas que estão por lá também sentem o mesmo.
Expression session de alma
A última bateria do dia 11, quarta feira, aconteceu no formato “expression session”. Nomeada “Icons of Surf Super Session” foi, para mim, a tradução do que experienciamos naquela viagem. Uma confraternização entre atletas de ambas as categorias, feminina e masculina, competidores e free surfers, sorteados para usar releituras de pranchas icônicas como a monoquilha de Gerry Lopez, as triquilhas de Mark Richards, e ainda modelos usados por lendas como Andy Irons, Tom Curren, entre outros.
Um momento único, em que pudemos nos deliciar ao assistir vários estilos de surfe, em biquilhas, monoquilhas, triquilhas e até alaia, surfada pela musa brasileira Silvana Lima.
Foi bonito demais ver a performance, a harmonia e a diversão dessa galera na água, transbordando espírito surfe, neste lugar tão especial.
Caroline Marks e Mikey Wright levaram, merecidamente, o prêmio da bateria “Icons of Surf Super Session”, mas o show foi mesmo coletivo.
Enfim destaco a performance da Leah Dawson, free surfer que admiro há muito tempo e que tem um estilo muito original e super conectado com o mar.
E desejo, de coração, que os locais de Barra de La Cruz consigam manter a união e o senso de comunidade, que vimos tão vivo em 2018, quando passamos por lá com o Rekombinando. Isso que torna possível a preservação ambiental e mantém a singularidade e a magia desse pico, para onde quero poder voltar ainda muitas vezes.
Imagens: Marcio Machado
Para conhecer o Rekombinando siga o projeto ou saiba mais em rekombinando.org
Lugar mágico! Surfei lá em 2010. Ainda tinha pouco crowd…
Muito mágico mesmo Mauricio! Como estará agora? Eu fiquei muito curiosa para voltar. Tomara que siga preservado.
Que legal ouvir as histórias de Barra de la Cruz por esse olhar, adorei a matéria e a relação que os locais têm com o seu meio ambiente, e como preservam esse lugar lindo de forma igualitária e em comunidade. Parabéns, Antônia e o Rekombinando!
Valeu Fábio! Conhecemos muitos lugares e comunidades inspiradoras nessas viagem. Barra de La Cruz é daqueles para voltar!
very good post I love this amazing site keep it up