Superação marca vitória de ex-atleta na segunda etapa do Ubatuba Pro Surf, na Praia de Itamambuca (Ubatuba)

Cleiton começou a surfar na Praia do Félix nos idos de 1994, o pico é conhecido como um pequeno paraíso de esquerdas, onde tubos verdes cristalinos costumam rolar com frequência. Aos 12 anos ganhou um moreyboog e nunca mais parou. “No começo ele era vermelho, depois foi desbotando até que ficou cor-de-rosa”, lembra ele aos risos. Quando convenceu um primo a trocar o morey gasto por uma prancha de verdade, finalmente entendeu o que era o surf.

Os amigos e familiares costumam lembrar com certa emoção de um menino com muito talento. “Nestes anos de surf, desde os antigos festivais entre o final dos anos 80 e início de 90, posso dizer com tranquilidade que o Cleiton já se destacava demais, era muito talentoso. O surf dele era vertical e afiado desde muito pequeno”, conta o amigo e primo Sebastião Gomes, figura marcante nos festivais como segurança.

Por volta dos 18 anos ele largou as esquerdas cavadas pelas direitas cheias. Do Félix se mudou com a família para a Vila de Itamambuca. Se para Maicol e Marco Aurélio o irmão serviu de inspiração para o surf, Cleiton nunca teve qualquer incentivo. “A vontade de surfar nasceu comigo, nunca tive ninguém que me incentivasse, tive que trabalhar desde moleque”.

Até uma hora em que o surf ficou para trás de vez, dando lugar a muita balada. “Sei lá o que deu na minha cabeça”, relembra ele sobre uma fase que durou três anos e que pretende deixar no passado.

Confira a seguir, entrevista sobre uma infância roubada, a radicalidade como forma de expressão, o fundo do poço e a volta por cima de Cleiton Santos Félix.

Como o surf entrou na sua vida Cleiton? Tava no quintal de casa né? Mas, ninguém me levou. Tive que ir sozinho. Aos 12 anos comecei, ganhei um moreyboog com quilhas, do dono do barco que meu pai era empregado, ele era vermelho e depois foi desbotando até que ficou cor-de-rosa”.

E quando você passou a surfar com uma prancha de surf? Troquei com um primo meu, convenci ele a trocar comigo, foi fácil, a prancha era muito velha (risos).

Quando criança você chegou a fazer parte de algum projeto social? Não, nunca tive apoio ou incentivo. Tive que largar o surf muito cedo pra trabalhar, aquela coisa de filho mais velho né, você sabe.

E como a competição entrou na sua vida? Foi aos dezesseis anos, fiquei em segundo lugar no Prumirim, não me esqueço desse dia. Depois disso me animei pra competir e comecei a participar de todos os eventos de surf da cidade. Depois comecei a viajar, mas na maioria das vezes, não tive condições de bancar a barca.

Qual foi o primeiro pico fora de Ubatuba? Itanhaém. Fui pra competir né, claro, era o Hang Loose. Já tinha competido um aqui, o segundo foi lá. Eu gostava bastante dessa história de competição, mas nunca me dava bem. Minha mãe costumava brincar comigo dizendo que eu já podia abrir uma pousada com o tanto de quarto (lugar) que eu ganhava (risos).

Você sentiu raiva em algum momento por ter que abrir mão da sua infância pra trabalhar? Ah senti, não vou mentir pra você. Não entendia por que eu não podia me dedicar pra um esporte ou simplesmente brincar, sendo que eu sabia que eu tinha chance de me dar bem. Não foi fácil ter que parar de surfar e ter que trabalhar porque você é filho mais velho. Vou falar pra você, o surf muitas vezes era minha única saída, acabava descarregando a frustração nas manobras, e por um lado isso era bom, mas na hora de decidir e vencer uma bateria eu não tinha cabeça.

Até que uma hora o surf ficou pra trás de vez?Sim, não sei o que estava em primeiro lugar na minha vida naquele momento, mas com certeza não era o surf. Caí na night mesmo, zuera, fiz muita coisa errada. Na real? Joguei tudo pro alto, não soube dar valor pra pequena chance que estava tendo.

Você chegou a perder patrocínio? Sim, não era lá essas coisas, quero dizer que não dava pra viver daquilo, mas já era alguma coisa né, mas chegou uma hora que fiquei sem nada mesmo, engordei, troquei o surf por outras coisas. Um passado que hoje posso te afirmar, não quero pra mim.

Quem te ajudou a sair da roubada, vamos dizer assim? Minha mulher Giselle, devo tudo a ela. Essa mulher é incrível e segurou uma barra que eu vou falar pra você. E hoje, ontem, sempre eu vou dedicar essa vitória pra ela. Porque não é só pelo pódio lá em Itamambuca, claro que o evento é irado não tem o que falar, mas essa vitória é muito maior pra mim e representa muito mais na minha vida.

A Giselle te ajudou inclusive com a alimentação nestes últimos meses, como foi o momento de preparação para o campeonato? Eu perdi 15 quilos, mudei completamente minha alimentação e comecei a treinar. Parei de me lamentar por qualquer problema e usar isso de desculpa pra não ir treinar ou então de seguir uma dieta. Tentei perder peso outras vezes, mas sempre que acontecia um problema, eu descarregava no rango e não ia treinar. Chegou uma hora que me cansei disso, coloquei uma meta na minha cabeça, mas ainda não conquistei ela.

Qual é a meta? É seguir com a dieta chegar nos 85 kg e seguir treinando, porque é muito boa a sensação de dever comprido. Você ser recompensado por um esforço que foi seu é muito bom e só dá mais vontade de vencer mais. É contagiante se colocar em primeiro plano na vida e ter hábitos saudáveis, sentir a vida é muito bom, ter essa consciência é muito legal.

Você está de volta pro jogo? Tô de volta com certeza. Hoje me sinto mais preparado do que nunca. Confio em Deus, ele não deixa ninguém na mão.

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