O primeiro raio de sol apontou no céu. A padaria abriu. O pinguço finalmente dormiu. Tudo parecia ter voltado ao normal na manhã do dia 20 de dezembro. Menos para Açucena, surfista de 19 anos, que ainda acreditava ser a culpada pela morte da mãe.
“Não consegui sentir ela perder o pulso, não fiz a massagem cardíaca”. Só então, no dia seguinte, quando o médico legista explicou para a menina que sua mãe não teria tido chances de sobreviver, ela caiu no sono.
Foram inúmeras facadas. Lucília Vaz, de 47 anos, foi morta dentro de casa, enquanto lavava roupas e esquentava a janta. A vingança foi finalmente consumada, mas não sem antes, ser anunciada inúmeras vezes.
“Até de dentro da cadeia ele mandava recado. Vinha gente falar pra ela que quando ele saísse iria matá-la”
Aos 3 anos de idade, os pais de Açucena se separaram. Desde então, a avó passou a cuidar mais da menina com nome de flor, que acabou criada também por parentes e amigos.
Apesar de uma infância simples no Sumidouro, bairro pobre de Ubatuba, Açucena não se recordava de conviver com a violência doméstica, antes de conhecer o ex-companheiro da mãe.
“Quando eles se conheceram ele bebia cerveja sem álcool. Depois ele voltou a beber, ela dizia que era a bebida que o deixava agressivo”, relembra a filha.
Francisco Aldo Ribeiro, de 61 anos – mais conhecido como Aldo – não aceitava a separação, mas antes colocou a companheira para fora de casa algumas vezes, agredia e ameaçava frequentemente Lucília.
Boatos contam que o homem matou o próprio irmão, que o filho foge do pai que nem diabo foge da cruz e que ele ainda teria uma filha que se tornara delegada.
“Ele sempre ameaçou ela de morte, depois do que aconteceu em 2014, mas nunca imaginamos que ele seria capaz de fazer. Eu mesmo falava que era da boca pra fora”.
Na época, a mãe perdeu o útero por conta de uma paulada e a filha tomou cinco pontos na cabeça.
O homem passou um ano na cadeia e jurou se vingar. “Até de dentro da cadeia ele mandava recado. Vinha gente falar pra ela que quando ele saísse iria matá-la”, conta a filha Açucena.
Açucena já guarda cicatrizes profundas, que certamente, jamais a deixarão. O que a salva desta tragédia é sua fé, sua força e o amor pelo esporte.
“Já pensei em parar de surfar. Quando perdi meu patrocínio fiquei revoltada, mas minha mãe não deixou que eu desistisse”, relembra ela.
Agora, com a morte da mãe, resta a fé e o surf. Por alguns instantes ela parece não sentir o que se passa ao redor. “A ficha parece que não caiu. Fico imaginando ela entrando em casa”, devaneia.
Há feminicídio quando o Estado não dá garantias para as mulheres e não cria condições de segurança para suas vidas na comunidade, em suas casas, nos espaços de trabalho e de lazer. Mais ainda quando as autoridades não realizam com eficiência suas funções. Por isso o feminicídio é um crime de Estado (LAGARDE, 2004,)
Açucena voltou ao seu refúgio, está tocando a vida. Sua força agora esta concentrada em fazer justiça. “Se ele estivesse preso eu ficaria na minha, mas ele está solto”, conta ela que tem recomendações de não sair de casa sozinha.
Ele continua solto e Açucena corre risco de morrer como a mãe, assassinada pelo simples fato de ser uma mulher. Até quando?
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Até quando seremos mortas por mudarmos de planos? Por querer abandonar uma vida, um companheiro errado, um relacionamento doente, um vício que nos aproxima da morte?
Quando perguntada sobre seu maior anseio no momento, ela diz com o olhar perdido: “Não sei, se fosse antes disso eu diria que era o surf, hoje o que mais quero é que a justiça seja feita.”
Qdo isso terá fim?!?!
Pena de morte.
Muito triste!!
Que a justiça seja feita!!!!
Triste e ao mesmo tempo nos causa ódio, raiva, de uma pessoa tão covarde, doente, incapaz de ser feliz e fazer alguém feliz! Que a justiça seja feita e que não fique como apenas mais uma, que esse mostro pague por toda dor, por toda destruição que fez para a família! Família que a amava de verdade, que torcia para sua felicidade!!!
Governo novo, penas novas, em especial a pena de morte para todo assassinato.
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