Cabeça no travesseiro e pensei no óleo. Todo piche, petróleo, aquele líquido nojento, viscoso, invadindo praias. Aquele óleo entrando em picos que já visitei, já surfei. Já estive naquele mar, que era limpo, e agradeci por ter estado lá.

Stella Maris é um deles. Lugar que guardo no coração com doçura a recordação de um tempo. Quando, aos vinte e poucos anos fui elenco de quadro da TV. “Caminhos da Aventura”, com Dani Monteiro, transmitido no Globo Esporte (TV Globo). Hoje esse lugar está “coberto de óleo”, de piche imundo.

Praia do Forte, outro lugar que vai ficar guardado. Foi lá que cobri para a editora Trip um campeonato feminino cheio de significados. Digo, não foi apenas um evento de surfe para mulheres, mas a tentativa de ressuscitar a modalidade. E Marina Werneck fez, brilhantemente. Hoje, esse paraíso agoniza, com o líquido ascoso.

Por que tanta demora?

Faz semanas quando em um grupo de WhatsApp formado por um pessoal preocupado com a falta de Saneamento Básico de Ubatuba, recebi as primeiras imagens do óleo.

Precisamente, dia 26 de setembro. Chorei quando vi as cenas. Tartarugas inteiras cobertas com aquele líquido grosso, sufocante, asqueroso. Enviei emails às autoridades de Paracuru (CE), que era de onde vinham as cenas, e só recebi o silêncio. Liguei, mas tive só a espera.

Apelei para uma ONG e dessa vez me veio um “semi-silêncio”. A resposta, parcelada.  Até que senti que dali não sairia nada relevante, apenas uma fala alinhada ao Governo.

Até que veio matéria dando cabo de que o petróleo não seria nem do Brasil. Me perguntei que diacho aquilo servia naquele momento.

Claro que importa saber a origem do óleo, mas era como se dissessem “ah, isso não fui eu que fiz”, “essa cagada não é minha”. Jurei que não escreveria nada, mas cá estou eu.

Já imaginei que o estrago fosse uma tentativa de sabotar o Nordeste.  Já imaginei se isso não seria uma grande cortina de fumaça.

É que é tanta tragédia, que fica difícil dar conta. Não bastasse o fogo na Amazônia, com fortes indícios da participação de grileiros. Agora esse descalabro.

Não se sabe quão ruim é o estrago. O site ECO chegou a cogitar uma lavagem de tanque, mas é muito óleo, teriam que lavar muitos tanques em alto mar. Que crime!

O que está acontecendo conosco?

Foto de capa Maurício Cardim

Amiga e colega de profissão, Alexandra Iarussi registrou minha entrada nos mares da Praia do Forte. A foto virou página dupla na Hardcore.
Piche no Mangue. Foz do Rio Pojuca, Praia do Forte.