O cantor, músico e compositor, que lançou recentemente o clipe ‘Espetacular nadar no seu mar’, conta como é o surfe após os 50, relembra quando foi expulso do mar por Fastie Eddie e ainda fala sobre surfistas bolsonaristas e a relação com a democracia

Por Cela Lima

Supla pegando uma direita tubular – Foto: acervo pessoal

Pergunta – Como foi que você começou a surfar?

Resposta – A primeira vez que vi o surfe foi na Califórnia, onde morava com meus pais. A gente vivia em Stanford, mas me lembro passando ali em São Francisco, uma galera com prancha e aquilo ali me chamou muito a atenção. Mas comecei a surfar no Guarujá, foi quando a gente voltou para o Brasil, e ali meus pais conheciam uma galera que tinha apartamento, a minha avó também tinha. Então sempre quando dava ia pegar onda. E depois a gente tinha uma casa de praia lá em Picinguaba (Ubatuba) que é uma casa em cima do morro, parece a casa do Tarzan, não tem telefone, não tem nada. Ela está lá até hoje. E aí comecei a pegar onda ali no Litoral Norte. Então eu conheço bem a Praia do Félix, Itamambuca, a Praia da Fazenda… e era um privilégio realmente poder pegar onda nesses lugares. Mas eu desenvolvi meu surfe mesmo nas Pitangueiras, com toda a galera new wave ali. (risos) Cinira, Paulinho Esmeralda, Paulinho Esparadrapo e por aí vai. Me lembro do Tinguinha pegando onda ali também. Essa era a galera.

P – Todo surfista já passou pelo menos um perrengue no mar. Me conta qual foi o seu? Ou aquele que mais te marcou?

R – Um grande perrengue que passei foi quando estava com 16 anos, pegando onda eu e o Cinira em Pipeline. E aí vi um cara indo dropar uma onda em Pipeline, devia estar uns 6 quase 8 pés (aproximadamente 2 metros), o que é grande pra mim, e esse cara veio lá do pico. Falei “esse cara nunca vai passar na onda”. Meu, ele já desceu praticamente entubando. E fui dropar a onda dele, rabear a onda dele. E caí em cima dele. Nossa, me lembro do Cinira me contando a história. Me lembro que eu caí, bati meu pé nas rochas ali embaixo, e quase fiquei preso, mas levantei. Quando levanto já vejo esse cara vindo, olhando pra mim, remando e falando “Out! Out!” (Fora, fora. Em inglês.) “Sai agora do mar”. Nossa, cara já fiquei “Cadê minha prancha? Cadê minha prancha?” Ainda bem que a cordinha não tinha arrebentado. E já fui saindo e remando o mais rápido possível. Ainda bem que não veio uma onda atrás. Deu uma calmaria e deu pra sair. Era o Fast Eddie (Eddie Rothman), o black trunk mais cabuloso da época. Acho que esse foi o meu maior perrengue de medo. O Cinira falou “Achei que você ia morrer e que o cara ia te afogar ali mesmo”.

P – Você tem a energia muito boa. Acha que o surfe tem algo a ver com isso?

R – Muito obrigado pela energia. Sempre tento manter a positividade sabe? Be positive, tá ligado? Tipo Bob Marley, meu. Enxergar os problemas, não fugir dele, mas sendo positivo. Bob Marley é sempre uma música que me acompanha no surfe. E o reggae, Peter Tosh e Jimmy Cliff, The Wailers. O rock and roll foi muito inspirado por toda essa onda new wave, que vinha dos Estados Unidos, com The B-52’s, Devo, principalmente, Oingo Boingo, sabe? São bandas surf punks que marcaram e que eram muito ligadas assim à coisa do surfe mesmo. E depois surf music passou a ser NOFX, outro tipo de som, mas já com a pegada punk californiana mesmo. Agora, essa parada peguei muito da música com os surfistas que escutavam essa onda meio new wave mesmo. Eu adorava. Escutar um B-52 antes de entrar no mar realmente me deixava bem excitado. Ou até um Exploited, “F*ck the USA” com GBH.

Foto: acervo pessoal

P – Você deixa bem claro nas redes sociais o seu posicionamento político. Aliás, não só nas redes, no seu trabalho também. Vejo que no surfe tem muito bolsonarista. Qual a sua opinião sobre isso?

R – Bom, acho que isso é a democracia, sabe? Tem os candidatos e você vota em quem você acreditar. Não voto no Bolsonaro, né? Ele foi eleito pela democracia, com voto eletrônico, então agora está reclamando do voto? E falando em surfista votando em Bolsonaro, é muito preocupante isso, porque o surfista zela pela natureza, né? E olha só, o ministro do meio ambiente. Olha o que aconteceu na Amazônia. É um negócio maluco. Nunca teve tantas queimadas. Tem milhões de acusações. Então, pensem bem meus caros. A gente está numa democracia, você é livre para votar em quem você quiser. Pensa só nesse fato aí. Ok?

P – Fiquei tão encantada com o lançamento mais recente da Brothers of Brazil que não paro de ouvir. Tenho acompanhado nas redes sociais a repercussão do seu namoro com a Nathalia. Você diria que “Espetacular Nadar no seu Mar” é uma canção de um surfista apaixonado? Foi inspirado nela?

R – Obrigado! Acho que é uma música para qualquer pessoa apaixonada. Essa letra, ela começou a ser feita em inglês, com meu amigo Justin Tantler e depois ela teve a adaptação pela Tatiana. Gosto muito quando ela fala assim “Eu, eu tento evitar, só de imaginar meu coração já se envolveu”. Eu só quero brincar, eu tento evitar, mas quando você vê já está totalmente apaixonado. Isso acontece nas paixões, né? Então, é uma história bem real mesmo. Ela não foi inspirada na minha namorada, na Mastrobiso (Nathalia). Mas é uma música onde realmente, a maioria das paixões, dos namoros começam assim, né? Você não quer se envolver, você está indo ali… não é que você não quer se envolver, você está sentindo, só que aí quando você já viu você já está envolvido e aí não tem mais jeito.

P – Como é o surfe após os 50? Sua remada está em dia?

R – Fica mais difícil, meu. Ainda mais eu, que não estou 100 por cento pegando onda toda hora devido ao trabalho e tal. E migrei, eu confesso, para o pranchão, que eu entro mais fácil na onda e curto muito. Só para passar a arrebentação que não gosto muito do pranchão. Mas, para entrar na onda realmente facilita. A remada está boa, mas não está como era quando eu estava no auge, isso tenho que reconhecer.

P – Comecei a surfar aos 30 e hoje incentivo pessoas que sonham em se tornar surfista a se jogarem no mar. O que o Papito diria para quem morre de vontade de aprender, mas tem medo ou vergonha de tentar?

R – Nossa, para mim o surfe é uma terapia fantástica! Esse contato com a natureza. Então, mesmo se você está começando com uma idade mais avançada que seja, de 30 (em diante), não tenha vergonha, porque ninguém nasceu sabendo, já fazendo aquilo, surfando ou seja lá o que for. Então, acho que tem que ir com tudo, com força de vontade, porque eu realmente recomendo! É uma energia com a natureza, que não tem igual. Quando você conseguir pegar o seu primeiro tubo, aí fica viciante o negócio mesmo. Aloha!

Supla surfando – Foto: acervo pessoal