O norte americano Kelly Slater, que está prestes a completar 50 anos, venceu ontem, 05, a etapa em Pipeline que inaugurou o circuito mundial de 2022. 

Os números do surfista, onze vezes campeão mundial, impressionam quando se trata de resultados em Pipeline, e no geral. Afinal de contas são onze títulos! Onze!

É verdade que os tempos eram outros, o tour era diferente, o próprio surfe também. Por outro lado, Slater é brilhante não apenas como um modelo fenomenal de longevidade física, mas na forma com que soube se atualizar e manter-se progressivo. 

Ademais, o surfe ganha muito com um representante como Kelly Slater, além do cenário competitivo. Sua contribuição à história da modalidade abarca também os que pouco simpatizam com o universo competitivo. Como no meu caso, aliás. 

Comecei a surfar nos anos 90 e Kelly Slater foi um ídolo, um surfista que permeou meu imaginário e fez com que eu admirasse o esporte que já achava mágico por toda sua complexidade.

Naquela época, assistir a Kelly, era conhecer um repertório mágico, era descobrir toda a beleza e potencial que um surfista poderia desempenhar, por mais distante que aquele surfe fosse do meu. 

Mas foi em 2022, que definitivamente a figura de Kelly Slater deixou de ser algo que me emocionasse, que representasse um modelo de algo edificante. Com um posicionamento anti vacina, (nos bastidores circula a informação que ele já está vacinado, inclusive), a favor do abate de tubarões, com ideias demasiadamente conspiratórias. Hoje me esforço para separar o atleta da personalidade, o surfista do ser humano Kelly. 

Entretanto, a complexidade dos seres me permite compreender e aceitar as coisas como são, ainda que com certo descontentamento. Não há formas de negar a belíssima contribuição de Kelly ao surfe, nem tampouco deixar de se surpreender com seu físico, sua destreza mental, e a excelente performance em Pipeline. 

Contudo, honestamente, ando cansada de Kelly nas competições, começo a questionar qual o momento certo de um atleta se aposentar, qual a importância de renovar os ares do tour, ou ainda o que leva um surfista de 50 anos ainda estar disputando um circuito mundial. 

Por fim, amaria escrever como agradeço a Kelly por ter admirado tanto esse ídolo do surfe, mas não é um caso. 

Momento marcante, Seth Moniz abraça o campeão da etapa Slater. Foto Brent Bielmann/World Surf League)