Eu gostaria de escrever sobre a maravilha que foi assistir à etapa de Sunset Beach, a lendária e onipresente onda volumosa e potente, com surfistas aguerridos e talentosos. Aliás, como é maravilhoso ter uma etapa em ondas como as de Sunset. Não teve um aéreo, só borda, linha, cavadas perfeitas, muito surfe raiz! Não me leve a mal, não sou contra aéreos, mas amo um surfe clássico. 

Entretanto, falar de surfe competitivo em evento mundial hoje soa vazio, por mais errado que a frase pareça. Uma vez que de superficial não houve nada. Aliás, Jadson, querido, que surfe imenso. 

As cenas publicadas em ‘primeira-mão’ pelo Padre Julio Lancellotti foram de um desespero atroz. A potência da água, daquela mesma força que ouvimos ontem, 15,  quando a transmissão cortava os microfones do estúdio para que o telespectador pudesse experimentar a força das ondas de Sunset. Essa mesma força, só que doce, suja, marrom e desenfreada, não cortava corais nem tinha azul belo, mas era feita de medo.

Foi impossível não lembrar do desafeto comentando outra tragédia recente, dessa vez em São Paulo. Como se as pessoas que morrem, que perdem tudo, quisessem passar por isso. Ou será que elas preferem isso a ter que morar debaixo da ponte? Ou será que todo mundo gostaria de um lar digno? Ou será que se oferecer seu palácio em Brasília ou condomínio na Barra, em troca de um barraco no pé do morro a família vai dizer:  não senhor, muito obrigado, prefiro morrer a qualquer hora dessas.

As mudanças climáticas estão sim trazendo todo esse cenário que estamos vendo. E não venha dizer que tragédias assim sempre ocorreram na história da humanidade. De fato sempre houve catástrofe, afinal desde que o mundo é mundo estamos aqui interferindo de algum modo na dinâmica da Terra, e fenômenos trágicos também acompanham nossa existência (ou tentativa dela). Porém a frequência, a força e os efeitos catastróficos irão aumentar a partir de agora. 

O clima está pedindo sua atenção, socorro. As florestas têm uma função, parem de tocar fogo na Amazônia e em tantos outros biomas. 

Surfista, olha para o seu mundo salgado de um jeito menos individual. Cuida da sua praia, recolhe seu lixo, mas mais do que isso, consuma menos! Consuma com consciência.

Surfista, vota direito. Elege quem acredita no potencial da biodiversidade. Elege quem cobra dos países ricos e desenvolvidos, esses sim os grandes responsáveis pela emissão excessiva de poluentes, consumidores vorazes, que paguem a conta. 

Porque o estrago está feito e quem vai sofrer as consequências por apoiar um sistema degradante somos nós, os países tropicais e subdesenvolvidos. De nada adianta ser subserviente. O Brasil tá cansado de ser quintal de país rico.

A fúria do desequilíbrio ambiental representada em forma de corredeira em Petrópolis, Rio. Reprodução Instagram.