Se hoje eu surfo, devo muito a Camburí e outros picos do Litoral Norte.
Durante anos aquelas ondas do canto esquerdo, perfeitas e triangulares, de cor verde esmeralda, permearam meu universo, tanto na esfera mental, quanto emocional.
Prazer, diversão, desafio.
As sessões de surf em Camburí estão impressas na minha alma pra sempre. Assim como os inúmeros finais de semana de sonho, quando escapava de uma realidade dura em São Paulo, pra viver sábados e domingos dourados.
Por isso, no domingo, quando a editora do jornal me mandou mensagem perguntando se eu poderia cobrir a tragédia em São Sebastião, um misto de sentimentos tomou conta de mim.
“Eu vou”, falei pro meu marido, enquanto meu filho de dois anos brincava de carrinho debaixo da mesa, onde havíamos acabado de almoçar.
“Como você vai chegar lá?! A estrada está fechada”, respondeu ele.
De certa forma, confesso, a resposta acalmou meus pensamentos.
Se por um lado a dúvida pairava na cabeça, conseguiria ou não chegar? Por outro lado, tinha certeza que se eu fosse, jamais voltaria de lá a mesma pessoa.
As cenas de destruição, a lama, as feições de tristeza, de luto. Famílias inteiras devastadas.
Não fui. Fiz a doação que pude e me ausentei das redes. Essa foi a forma que encontrei de ajudar as vítimas da tragédia de São Sebastião.
E prometi pra mim que durante o feriado não consumiria notícias sobre a tragédia em exagero.
Mas durante esses dias, isso ficou martelando na minha cabeça. Porque tenho tentado encontrar um jeito de dizer o que penso sobre tudo isso. Mas não consigo.
E sigo não conseguindo ????
De uma vez por todas, parem de eleger NEGACIONISTAS, olhem para a desigualdade social sem ignorar a lógica neoliberal, e entenda a tragédia como uma consequência desse capitalismo selvagem destrutivo…
Força e luz às vítimas ❤️????
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