Definir este momento na história do surf feminino é desafiador. As recentes competições em Pipeline e Sunset deram ao público uma visão significativa do que esperar do futuro do surf feminino de competição.
Por muitos anos, a superioridade masculina foi a norma, relegando às mulheres um papel secundário, frequentemente descritas como “em evolução” — uma observação que, apesar de verdadeira, soava frustrante. Essa percepção perpetuava a ideia de que, apesar do progresso, as mulheres nunca estariam completamente prontas.
É fundamental abordar essa história de forma clara e honesta. Desde o início, as mulheres participaram do surf, um tempo em que o esporte não era comercializado e a distinção de gênero não era tão marcada. Contudo, com o surgimento da indústria do surf, dominada por homens, a dinâmica mudou. Barreiras foram criadas para as mulheres, sujeitando-as a condições desfavoráveis e até a boicotes diretos.
O machismo permeou desde o freesurf até as competições, tornando difícil distinguir os diferentes aspectos dessa discriminação.
Os tempos mudaram. Agora, ao invés de enfrentarmos agressividade e negação, há uma demanda por equidade. O mundo parece não tolerar mais tanta violência contra as mulheres. E essa violência não se limita ao físico, mas também ao emocional, especialmente a discriminação brutal enfrentada por surfistas negras e nordestinas no Brasil.
Historicamente, surfistas que se enquadram em “padrões estéticos europeus” foram favorecidas, mesmo que seu talento fosse inferior. Como a jornalista Érica Prado apontou em entrevista à TV Brasil, as melhores surfistas do Brasil são negras, muitas delas nordestinas.
Ainda que possa parecer que eu tenha perdido o rumo deste texto, o objetivo deste artigo é destacar o significado da oportunidade. Ao oferecer condições iguais e oportunidades reais, não estamos apenas formando uma surfista tão competente quanto seu colega masculino, mas também uma mulher confiante em suas habilidades.
O surf competitivo demanda talento, confiança e coragem, mas também acesso a ondas de qualidade, suporte físico e mental adequado, além de estrutura de treinamento eficaz.
Estamos vivenciando um período sem precedentes no surf feminino, um momento que, confesso, esperava presenciar, mas não tão cedo. A ideia de mulheres competindo em Pipeline parecia distante, até que Moana Jones Wong mudou essa percepção, pleiteando equidade, mesmo que indiretamente.
Ainda há receio em afirmar com total convicção que alcançamos um ponto sem retorno, que tudo mudou. Entretanto, Molly, Bettylou, Gabriela, e Caity não são estrelas isoladas, mas parte de uma constelação inteira prestes a brilhar, deixando um legado que transcende a ideia “simplista” de serem surfistas talentosas.
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