Em entrevista, Victor Fisch fala sobre o momento atual, em que acredita haver uma criminalização da Arte, dá detalhes sobre o festival e o que o público deve esperar da primeira edição do evento
O 1º Festival Internacional de Cinema de Surf de Ubatuba (FICSU) ocorre entre os dias 13 e 16 de junho de 2019 e coloca a cidade em um circuito mundial de festivais de cinema de surfe. O evento teve 74 filmes inscritos do mundo inteiro.
Primeiro gostaria de agradecer a oportunidade e antes de começar as perguntas sobre o Festival, fale um pouco sobre sua trajetória profissional? Sou formado em Cinema pela Faap e Mestre em Roteiros pela EICTV de Cuba, meu foco é roteiro, mas também trabalho como montador, produtor e desde 2015 me dedico à organização de Festivais de Arte o “Soy Loco Por Ti Juquery”, Festival em Franco da Rocha no Hospital Psiquiátrico e o Cinefest Gato Preto, festival de curtas-metragens que ocorre em Lorena, Vale do Paraíba. Descobri nos festivais um produto interessante e perene. Me mudei para Ubatuba ano passado para acompanhar minha companheira e por estar em busca de uma vida mais simples e com mais conexão com a Natureza. Ainda vou bastante a São Paulo, dar aula (de roteiro no InC – Instituto de Cinema), trabalhar e volto. Atualmente estou dedicado a três Festivais. Vejo muito potencial em Ubatuba, e olha que nem surfo (risos). Tudo começou com uma Oficina de Cinema que dei junto com um amigo, o Rodrigo Guim. Ele tinha uma ideia de fazer um festival de documentários. Sinto que demos o primeiro passo importante, a primeira edição é sempre mais difícil, mas a intenção é que vá ganhando cada vez mais força.
Essa semana saiu matéria com Renata de Almeida, diretora da Mostra de Cinema de São Paulo, em que ela cita que temos hoje uma espécie de “campanha contra a Cultura no Brasil”. Você concorda? E diante desse cenário, o que o Festival Internacional de Cinema de Surf representa?
Concordo, não tem como não concordar. Eu li a matéria e a Mostra é minha formação. Na minha opinião existe mais que uma campanha contra, mas a tentativa de criminalização da Cultura e da Arte. O que houve com a Lei Rouanet, por exemplo, que na minha opinião deve ser revista e aprimorada, mas as críticas tampouco se referem a essas questões. Por isso vejo o Proac como algo muito importante no Estado de S.Paulo. Houve uma tentativa do Governo de reduzir verbas e incentivos, mas voltaram atrás. Haverá sempre o risco de redução de verbas quando se trata de arte e cinema.
Por outro lado, acredito muito no poder que a Cultura tem de ser absolutamente transformadora, em qualquer sociedade. Me atenho ao exemplo de Medellín, na Colômbia, que reduziu a criminalidade com investimentos em Cultura e outros exemplos. Esporte é outro modo de combater a violência. Por isso eu superacredito em Festivais para diversos aspectos da sociedade, justamente por serem interdisciplinares. Acredito que existem pessoas interessadas em Cultura e vejo potencial e um interesse do mercado. Dependemos dos incentivos governamentais, até porque as marcas preferem apoiar justamente através dos mecanismos das Leis de Incentivo e não com verba direta.
Entre os filmes selecionados, oito são brasileiros. Como você vê a cena cultural do surfe e qual a importância e o interesse em tornar o evento Internacional já na primeira edição? Fiquei surpreso de forma positiva com a quantidade e a qualidade dos filmes brasileiros que recebemos. Sei que nos festivais de cinema de surf que existem ao redor do mundo, e não são poucos, não há a presença de filmes nacionais de maneira tão significativa. Os filmes selecionados são de muita qualidade, não só em termos de técnica. Na minha opinião, os filmes de surfe se dedicam pouco à narrativa e mais as imagens, há pouco roteiro e muita onda (risos) e por isso, acredito que os filmes que conseguem criar uma narrativa, um conflito, saem na frente.
Pode citar alguns que estarão no Festival e se atém a esses aspectos, de narrativa? Picuruta, do diretor Alex Miranda é um deles, com certeza. O personagem, Picuruta é bastante emblemático, aquele perfil dele, que arrumava confusão com todo mundo, isso dá narrativa à obra. O filme do Caio Vaz, “Dando a Volta Por Cima”, também, já que fala sobre um acidente sofrido e a superação. Respondendo sua pergunta sobre a questão da Internacionalização, acho fundamental que o Festival seja Internacional e que nosso Cinema possa circular mundo afora. Teremos surfe na neve com Priboi Surf Siberia, da Rússia, o Ius Maris, uma ficção dirigida pelo italiadno Vincenzo D’arpe, animação stop motion com o americano Tales of the Waveslayer (direção Himay Rivera,) recebemos até filme da Suíça (Tan de Alena Ehrenbold). Além da parceria com o Festival de Cinema de Surfe de Portugal, em que teremos uma sessão dedicada a eles na sexta (21h).
Quanto tempo durou o processo, desde a ideia até hoje? Foi um ano e pouco. Tive a ideia, aguardamos o edital (Proac) e começamos a trabalhar. Até os últimos detalhes, a criação de arte que inclusive quem assina é Uirá Martins, artista de Ubatuba e a J2 Comunicação. Tivemos sempre a preocupação de trazer profissionais locais. Na Curadoria, Júri, até na Feira que teremos com produtores locais.
O Festival reserva espaço para o surfe feminino. Qual sua visão da modalidade no Brasil? Suelen Naraisa faz parte do Júri e é nossa “resistência” nesse sentido. De todas as mulheres que conversei ouço que falta espaço para elas no surfe, como em outras áreas também. Por isso o Festival tem um Júri misto, de homens e mulheres. Teremos também a presença de Eliza Capai, cineasta de Ubatuba e que hoje percorre o mundo. Chloé Calmon também é destaque do Festival. (Chloé Calmon, direção de Luiza Campos e Kalunga, direção de Bernardo Gramaxo, Portugal e Angola).
Sobre a premiação, há uma divisão temática (nomes das praias) que definem as categorias. Conta um pouco sobre isso? A ideia foi minha (risos) eu acreditava que o Festival não tinha que ter uma premiação careta, porque não é isso que estamos discutindo aqui: melhor montagem, roteiro, etc. Estamos falando e tratando de outras conexões; não é um Festival que vai avaliar nível técnico, mas sim a arte em si. Itamambuca, por exemplo, vai premiar o mais completo, afinal a praia é “hors concours”. Já a Vermelhinha (do Centro) o filme mais radical. Perequê, onde fica a sede da Escola de Surfe vai premiar os estreantes. A Praia Grande é a mais popular, então vai premiar o filme que receber mais votos do público. A Sununga, tão especial, vai premiar o filme mais inovador e transformador.
Para finalizar, o que o público pode esperar do Festival? Energia muito positiva, cinema pé na areia, muita natureza, oficinas, artistas, shows, bandas, palestras. Ainda teremos test ride com pranchas Flap e limpeza de praia. E muito cinema!
O 1º Festival Internacional de Cinema de Surf de Ubatuba ocorre entre os dias 13 e 16 de junho na praia Vermelha do Norte, Ubatuba.
por Janaína
Ubatuba merece!
Merece mesmo, Fabio, a Capital do Surf tem tudo para ‘ganhar’ muito com esse evento, que como o Victor bem disse, vai levar ‘nossa arte’ para o resto do mundo e trazer quem sabe pessoas de várias partes do globo para conhecer, participar do evento, surfar e movimentar nossa cidade. Quer exemplo melhor do que Flip?! Vida Longa ao Festival!
Programação no Site do Festival: http://www.ficsu.com.br/programacao-ficsu-2019
Programação surfe total!!
Ótima entrevista e Parabéns pela iniciativa!!!
Ficamos feliz que tenha gostado! Esse Festival vai ser massa 🙂
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