Lixo na praia, bituca na areia, som alto, cachorro pegando praia, essas e outras cenas, que antes não faziam parte do dia a dia de Itamambuca, Ubatuba, agora fazem. Além do mais, a quarentena parece ter intensificado um turismo nada interessante e condizente com o que sempre foi o lugar…ou costumava ser.

por Janaína Pedroso

O loteamento, que já foi considerado um “poço de tranquilidade”, além de um dos picos mais tradicionais de surfe do país, hoje parece receber outro tipo de público, o da “baladinha” ou sei lá qual, e assim, aos poucos, parece deixar de ser o lugar para curtir a natureza. Uma pena!

Porém, moradores e visitantes de outrora estão bem ligados no movimento atual, e procuram de muitas formas barrar o avanço do mau turismo no local.

Por meio da arte e educação, a arteterapeuta Paula d’Almeida e a jornalista Regina Teixeira arregaçaram as mangas em busca de uma Itamambuca mais sossegada, ou talvez um pouco mais parecida com o que sempre foi.

É preciso dizer o óbvio

“Um surfista de lixo” na avenida de acesso ao loteamento de Itamambuca chama a atenção de quem chega. 

Sob o nome “É preciso dizer o óbvio”, a instalação é da arteterapeuta e moradora de Itamambuca Paula d’Almeida. Na obra, a artista utilizou lixo comum, restos de construção, tintas, recicláveis e cerâmica. 

“Depois do feriado de 7 de setembro, fiquei bem indignada com a quantidade de lixo e com o tipo de turismo que está frequentando Itamambuca, que mudou muito. Aquilo ficou reverberando dentro de mim. Então pensei em fazer alguma coisa artística pra chamar atenção”, explica Paula.

A escultura de lixo foi um desafio. “Trabalhei com um material que não conheço, no começo não sabia ao certo como iria fazer, mas enfim, resolvi me aventurar”, conta.

Paula convidou suas amigas e artistas, Baiá e Ciça Mônaco para juntas comporem a instalação. Baiá, que é artista plástica, pintou uma linda onda e Ciça modelou flores e borboletas em cerâmica. Quem também contribuiu foi Valdeci João da Silva, caiçara, local e pintor, para realizar a escultura de lixo! 

Acima, Paula e Valdeci.

Quarentena educativa

Outra cena que chama a atenção de quem vai à Itamambuca são as novas placas na avenida de acesso à praia. Com uma sequência de sinais que juntos compõem a seguinte frase: “Se você respeita a natureza, se você faz silêncio para ouvir o mar, se você recolhe o seu lixo, se você dirige devagar, você é bem-vindo à Itamambuca. Caso contrário, faça o retorno”

As placas são o resultada da “Quarentena Educativa”, projeto comandado pela jornalista Regina Teixeira e pela professora Erica Sanches. 

Há alguns anos, a jornalista e moradora de Itamambuca Regina Teixeira está à frente de um projeto de Educomunicação. “A base do projeto é justamente envolver a comunidade, principalmente crianças e jovens, para que eles reflitam sobre o local em que moram, valorizem e consigam transmitir para as pessoas que visitam que aqui é um lugar preservado e que as pessoas que estão vindo serão bem-vindas, caso preservem o lugar”, explica.

De acordo com a jornalista, a tecnologia da Educomunicação tem como objetivo fazer com que a comunidade seja a protagonista no ato de comunicar. “Neste projeto a comunicação não é para a comunidade, mas feita pela comunidade”, pontua Regina.

Crianças protagonistas

Nos últimos anos, em parceria com a SAI (Sociedade Amigos de Itamambuca) e Honor Figueira, escola municipal de Itamambuca, o projeto Educom segue avançando.

Por meio de um trabalho de sensibilização e dinâmicas, saem desenhos e mensagens, que acabam sendo expostas no loteamento. 

Regina explica que hoje, com a Covid19, os trabalhos foram adaptados. “Esse ano o trabalho ficou dificultado em função da pandemia. Então, a ideia foi reunir pais e amigos e tratar sobre importância dos nossos biomas, do manguezal, da restinga, enfim, todos esses temas que permeiam nosso dia a dia”, finaliza.

Por uma Itamambuca mais tranquila e silenciosa, apenas com cantos de pássaros e o incrível e terapêutico ‘barulho’ do mar…