Um respiro. Se posso tirar algo de bom da tão comentada disputa eleitoral do império yankee, é esperança. Sei que, no mundo das notícias, essa já é velha, mas no Dia da Consciência Negra o episódio vem a calhar

por Janaína Pedroso

Quarta-feira, 9 de novembro de 2016, que dia de bosta. E depois de quase passar mal ao acordar, nem bem havia tirado a remela do olho, li pelo celular o que não consegui acreditar: Trump presidente dos ‘staitis’. 

Quatro anos mais tarde, tomava uma cerveja sem álcool e olhava com alegria meu filho, com pouco mais de três meses de vida, sorrindo pra mim, babado e banguela, o ápice da felicidade. 

Claro que ele não faz ideia sobre quem é Biden, muito menos que talvez esse senhor represente uma espécie de futuro melhor a ele e a todos nós. Afinal, por enquanto, os sorrisos do meu filho não passam de uma incrível evolução dos pequenos espasmos, sem contar que basta que ele me veja, ou minhas tetas, para que abra o sorriso desdentado mais-lindo-do-mundo. Mas a mim, na minha fantasia de mãe esperançosa, parecia ser uma comemoração: ufa, bye-bye boneco laranja do mal!

Mas a verdade é que durou pouco minha alegria, já que sigo com enjoos diários graças às asneiras e atrocidades cometidas por Jair e sua trupe. Mas esse texto não se trata de seres abjetos.

Porque se por um lado, aqui no Brasil, tem surfista negro apoiando extrema direita, por outro, houve um movimento lindo do surfe recentemente “lá fora”, que rendeu capa da findada Surfer, inclusive. 

Pois bem, viajemos então alguns dias no tempo, hoje precisamente, Dia da Consciência Negra, para lembrar exatamente desse dia, um momento que deve ser mantido para sempre.

Finalmente, encerro esse ‘texto cansado’, com o discurso de Selema Masekela. Apesar da exaustão que me assombra, caminho com uma estranha esperança nos olhos, deve ser Antônio; Biden talvez?


Essa tem sido a semana mais difícil da minha vida, em meus 48 anos neste planeta, a semana mais difícil de existir na minha pele, e na minha pretitude. 

Tem sido desse jeito para todos nós que tem essa pele, imaginar o que é isso, e nos perguntar se de fato somos ou não americanos como todo o resto.

Mas para todos os surfistas que por acaso são pretos, nós sabemos e vivenciamos muitos desafios nessa comunidade, que provavelmente chocaria você. Porque parece que tem sido muito difícil para algumas pessoas procederem, diante de outras que simplesmente não se parecem com ela, mas que amam o oceano do mesmo jeito.

Não vamos aceitar o racismo nos Estados Unidos da América. 

Agora vamos ficar em silêncio os mesmos 8 minutos e 46 segundos que George Floyd enfrentou naquele espancamento brutal, a que assistimos pela televisão. Então, levaremos esse tempo para enfim remar e varar a arrebentação em honra à vida dele.

Oficial, eu não posso respirar! Eu não posso respirar! Não posso respirar!

Mãe! Mãe! Não posso respirar!

Tem algo sobre a pandemia que estamos vivendo, que é como uma vida preta, e que acabou por expor todo nosso sistema, que simplesmente não funciona!

Mas eu realmente acredito na América que nós podemos ser à  medida que olho agora para vocês, essa sim pode ser a América que queremos.

Espero que vocês estejam aqui amanhã, e depois e depois, e continuem lutando como esse dia, que chamamos de união. E diga ao racismo que ele pode ir embora chutar umas pedras, porque surfe não é isso!

Surfistas em nome da união. Foto Gabriela Aoun
União. Foto Billy Watts.

O título do post foi editado. Preparei esse texto antes de saber sobre o assassinato de Beto Freitas, espancado por seguranças do Carrefour. No título original, falei sobre ‘esperança’. Mas enganei-me. Não há com ter esperança no Brasil de hoje.