Primeiro campeão olímpico da história, Italo Ferreira chega ao Brasil e vai para o mar “surfar com os meninos”, de Baía Formosa. Surfista faz questão de agradecer e estar perto de quem esteve ao seu lado. Do mesmo modo, Baía Formosa também faz parte da história de outro ídolo do surfe brasileiro, Fabinho Gouveia, que fala da importância das ondas perfeitas do Pontal para a formação de ambos.

por Diogo Mourão

Ainda com a lycra da competição, depois de conquistar o inédito ouro nos Jogos disputados em Tóquio, Italo Ferreira emocionou-se ao falar de suas raízes, família e mais ainda ao lembrar da avó Mariquinha. Já estava clara a relação de amor do campeão mundial e olímpico com sua terra, sua gente, e aqueles que o acompanham desde o início da carreira.

Depois de uma viagem exaustiva e um dia de entrevistas em São Paulo e Natal, ele chegou em casa por volta das 3h da manhã e pouco depois das 5h, já estava na água: “Queria comemorar com os meninos”.

Pouco depois de chegar em casa e após dias de viagem e entrevistas, Italo se diverte em Baía Formosa. Reprodução instagram.

Aos 27 anos, Italo Ferreira ainda é um menino e isso parece ser um dos segredos para suas atuações espetaculares. Ele gosta de competir, tem sangue nos olhos na busca por vitórias, mas não deixa de se divertir e manter o espírito de criança dentro dele.

A grande vitrine

As redes sociais têm um lado cruel e raivoso, mas sem dúvida nos deixam mais próximos dos ídolos, que se expõem de uma forma que, sem elas, não seria possível. No caso de Italo, percebe-se verdade, sentimentos genuínos. Na terça (2), por exemplo, o campeão olímpico e mundial pegou o carro e foi até Natal agradecer ao seu Beto Fagundes e esposa. Quando competia na capital potiguar, ainda menino, Italo encontrava abrigo e carinho no lar da família Fagundes, que também tinha casa de veraneio em Baía Formosa.

“Antes de ir para Tóquio, fiz uma visita e disse que voltaria com a medalha”, escreveu Ítalo nos Stories com foto ao lado do casal Fagundes.

Para mim, essa foi uma das histórias mais simbólicas, mas no Instagram tem outras muito bacanas, como o vídeo em que ele bate na casa de seu João e Mãe Raimunda, na beira do mar, para tomar o tradicional cafezinho antes do surfe. Um campeão olímpico que mantém a simplicidade e sua ligação com as raízes.

Fábio Gouveia, outro talento da nossa Jeffrey’s Bay

Aliás, por falar em raízes, no meu texto anterior cito alguns surfistas que têm um pedaço da medalha do Ítalo e entre eles está Fábio Gouveia. O paraibano foi o principal nome da primeira geração a competir com mais consistência no Circuito Mundial e primeiro brasileiro a romper algumas barreiras: título mundial (Isa Games), etapa no Havaí, e se tornar top 5 do ranking.

Contudo, o que foi pouco lembrado até agora é como Baía Formosa une os dois campeões. Paraibano, Fabinho saía de João Pessoa em busca de ondas melhores em Baía Formosa. No caso, muito melhores.

“Fui à Baía Formosa pela primeira vez em 1983 ou 1984, levado por Paulo Bala, que me descobriu, me deu a primeira prancha. Chegando lá fiquei até com medo, surfando só o rabinho das ondas e vendo alguns nomes como Carlos Burle, Testinha e Felipe Dantas quebrando. Fiquei abismado com os locais João Maria e Chicó, que mostravam como surfar o pico, dar as rasgadas, entubar”, diz Gouveia.

Fabinho, dono de uma das linhas mais bonitas do surfe mundial, lembra a importância da onda de Baía Formosa para a evolução de seu surfe, referindo-se basicamente ao pico principal, no Pontal.
 

Fabio Gouveia, um dos primeiros grandes nomes do surfe competição do Brasil numa rasgada que mostra porquê sua linha é das mais elogiadas do mundo e no tempo que pegava carona para ir surfar em Baía Formosa. Crédito Reprodução Instagram

“É uma onda de linha, direita clássica e foi essencial para o meu surfe.  Apesar de não ser muito grande, a onda oferece um pouco de tudo. Tubo, rasgada, parede e ainda o desafio das pedras no fundo, muito importante para encarar outros lugares assim ao redor do mundo. Depois que comecei a viajar, conhecer outros picos, apelidei Baía Formosa de BF’s Bay”. Conta Fabinho, se referindo à cultuada Jeffrey’s Bay, uma das direitas mais famosas do mundo, na África do Sul.

Para chegar valia até carona em caminhão de cana

Para um adolescente apaixonado por surfe, Baía Formosa era o paraíso! “Eu queria morar lá. Sempre que dava eu ia. Quando não tinha carona, íamos de ônibus mesmo. Saltávamos na BR, na entrada da estrada a 30 km para Baía Formosa e ficávamos esperando alguma carona. De vez em quando era nos caminhões de cama, nos equilibrando em cima da carga. Adrenalina pura”.

Fabinho não tem dúvida de que a onda de BF’s Bay foi fundamental para o sucesso de Italo Ferreira. “A importância de Baía Formosa é total para o Italo. Ele teve um berço de ondas boas. Não temos a constância de outros países, mas Baía Formosa tem ondas perfeitas e pedras desafiadoras, que já preparam o surfista para o mundo. Além de beachbreaks para as manobras aéreas, acima do lipe”, finaliza.

Dois ídolos, duas gerações, abençoados pelas ondas de Baía Formosa, a nossa Jeffrey’s Bay!