Sou São Paulina por influência do meu tio Alexandre, uma espécie de pai postiço, amigo, que durante minha infância teve grande importância sobre minhas escolhas no esporte.
No interior, em Garça (SP), era futebol, carrinho de rolimã e natação meus “esportes” do coração.
Não sabia o significado de surf, exceto por um detalhe. Na casa da minha avó paterna, Darcy, na laje, repousava uma prancha de surf. Lembro-me de olhar sempre com certo interesse para aquele objeto.
No chão, com o bico quebrado, as cores originais, já desbotadas, davam lugar ao amarelado e ao marrom, das marcas do sol no pobre glass, tão castigado pelo descaso do dono. A parafina ainda estava lá; porém, dura e preta pelo acúmulo de sujeira.
Meu pai dizia que um dia foi surfista e que em Santos foi feliz em cima daquela prancha. Suas histórias alimentavam minha fantasia, mas o futebol e o São Paulo ocupavam meu coração.
Comecei a jogar bola criança e detestava a maneira como os garotos me ignoravam no momento da escolha dos integrantes dos times. Sentia a diferença, era clara.
Mas eu não me dava por vencida e costumava descarregar meu descontentamento em algumas canelas. “Não posso jogar com vocês? Então vai ver o peso do meu chute!”
Já em São Paulo, aos 11 anos, tornei-me ala esquerda (por alguma razão meu chute com essa perna saía mais forte e certeiro). Comecei a competir nos eventos escolares, fomos vice-campeãs da Copa AESA.
Adorava meu time e costumava saber a escalação do São Paulo sem titubear. Guardava no diário os autógrafos das estrelas, mas reconhecia que amado mesmo era o Flamengo. A maior torcida do Brasil, capaz de fabricar fãs em todo país.
No futebol machucava-me demais. Foram muitos tornozelos torcidos, até que, aos 15 anos, uma fratura grave, em dois dedos do pé, me deixou longe da bola por seis meses.
Não sei se por essa ou outra razão, mas a verdade é que fui perdendo o gosto pela bola. Aos 16 conheci o bodyboard e no ano seguinte já estava com uma triquilha. Então, nunca mais joguei bola de verdade.
Parei de acompanhar meu time, mas quando decidi ir embora do Brasil rumo à Austrália fiz questão de me despedir. Então fui assistir a São Paulo e Corinthians, no Morumbi.
Aquilo foi traumático. Uma pessoa morreu e por sorte saímos, eu e minha amiga Marcela, antes do jogo terminar e aquilo de fato se tornar o pesadelo que foi.
Flamengo x São Paulo e a certeza do que me incomoda
Virei surfista de vez, mas ontem assistindo ao jogo Flamengo x São Paulo, me fiz algumas perguntas. Por que parei de acompanhar o futebol? E comecei a entender melhor o que me fez deixar de admirar como antes o mundo da pelota.
Por incrível que pareça, não são os cartolas, o jogo sujo, mas a catimba. Se tem uma coisa que me irrita no futebol é essa encenação.
Ontem não foi pênalti. Não machucou, mas mesmo assim o jogador se jogou e fez uma cena dramática. E, apesar de todos saberem que aquilo foi puro fingimento, o placar não se altera. Chama o VAR! Que nada, ontem nem o VAR deu jeito!
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