Com 80 famílias atingidas até agora e marcas de peso por trás, Instituto Guardiãs do Mar (GDM) pretende “quebrar” a casca grossa do engessado mercado de surf nacional
“Hoje, me vejo como uma guerreira e sei, mais do que nunca, que o momento é de se reinventar”.
Do encontro saíram horas de papo sobre mercado, terceiro setor, essência, autoconhecimento, velhas práticas, renovação, humanidade. E próximos passos.
A entrevista com ares de bate-papo rolou em meio a pranchas e biquínis deslumbrantes, no número 451 da Avenida Pavão, Moema, bairro nobre de São Paulo.
O encontro foi possível graças a idealista Patrícia Almeida, quem criou o ambicioso “Guardiãs do Mar”, instituto fundado, em 2015, por ela, com o objetivo de levar às comunidades pobres do Brasil, esporte, lazer e dignidade.
“Cheguei no meu ápice, country manager de uma multinacional de marketing cloud, fiquei oito meses sem surfar, fiquei doente, fui parar no Hospital. Decidi, de vez, compreender a razão da minha existência e o Instituto me leva a isso.”
Nascido durante um momento crítico na vida de Patrícia, o Guardiãs do Mar começou quando ela resolveu abandonar a carreira em um ano sabático.
“Fui viajar, surfar, tinha perdido um grande amigo, o Sidão Tenucci, precisava dar um tempo pra cabeça”, confessa.
De volta ao Brasil, começou a se movimentar para desenvolver a história que tinha em mente.
Muito mais rápido do que ela poderia prever, passou a receber doações, produtos e propostas de parcerias.
“Ou você regulariza isso tudo imediatamente, ou você aborta já a missão”. Essa foi a frase dita a ela, pela amiga, Dra. Lúcia Bludeni. Presidente da OAB no Terceiro Setor, a amiga não tinha dúvidas dos perigos que Patrícia corria.
A surfista então, regularizou e agilizou um processo burocrático – que em média levaria no mínimo seis meses –, em apenas quinze dias.
“Frequento muito o Rio, mas confesso que não esperava enfrentar tanta dificuldade de inserção”, diz ela se referindo a possível desconfiança sentida pelo carioca, com relação a uma paulista a frente de um robusto projeto de surf.
“É um investimento bem grande se pensarmos que, por ação, eu chego a investir até R$ 85 mil reais. Incluindo tudo, logística, alimentação, acomodação, etc,” conta.
De volta a 2017, no meio do olho de um furação chamado crise, Patrícia vê claramente as mudanças no cenário, que incluíram a debandada dos apoiadores.
Patrícia tem consciência das dificuldades até agora. Quando perguntada sobre um possível arrependimento por ter almejado algo deste porte ela é certeira e direta.
“Não. De jeito nenhum. Apesar de todas as dificuldades eu consegui criar um movimento, uma energia, para fomentar outras instituições, empresas e grupos a se engajarem e criarem seus próprios projetos sociais”, explica.
“Com mais de 15 anos desenvolvendo projetos para grandes empresas decidi que dessa vez ia ser diferente. Sem fins lucrativos, não quero lucro, eu quero fazer algo bacana, pelo que eu amo”, confessa.
Mas não faltaram oportunidades para mudar de ideia. “Ouvi muita coisa de executivos poderosos: Você é louca, fica no social, não vai pro terceiro setor, fica no dois e meio.”
“Se eu não tivesse a essência, que a galera do surf me passou, baseada em valores, ética, vontade e paixão pelo que eu acredito teria me entregado. É fácil se corromper,” completa.
Sobre o cenário atual ela acredita que a “saída” esteja na mudança de comportamento e hábitos.
“Vivemos um momento difícil no Brasil, precisamos nos reinventar. Dividir, compartilhar e agregar é a grande mágica da vida. O mundo está doente. Ninguém mais tem tempo de olhar para o lado, para dentro. As pessoas não se bastam mais”, desabafa Patrícia.
“Sei que meu trabalho é uma gotinha no oceano, mas…”
Tem coisa boa vindo por aí!
Crédito das Imagens: Suellen Nóbrega
Precisamos de mais projetos e pessoas assim…
Tem toda razão Juliana!!
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